Enquadramentos jornalísticos do Governo Sartori: a seleção das fontes em Zero Hora
Resumo
Essa dissertação aborda a cobertura política em veículo impresso sob a perspectiva dos estudos de enquadramentos (frame analysis). A proposta é entender quais são os enquadramentos jornalísticos do primeiro ano de mandato do governador gaúcho José Ivo Sartori a partir das citações das fontes no tabloide Zero Hora. Para oferecer um entendimento desse problema e atingir o objetivo da análise, procura-se entender o contexto e os momentos imbricados na construção noticiosa que acabarão por determinar os enquadramentos dispostos nas páginas do impresso. Essa compreensão se dá a partir do olhar das teorias do jornalismo. Os aspectos da realidade destacados pelos frames na imprensa têm poder de ênfase e exclusão. A isso, está ligado o objetivo de compreender quais as relações existentes entre fontes e enquadramentos. O peso da palavra da fonte provém da influência dela na construção desses quadros propagados midiaticamente. A partir da teoria dos campos de Bourdieu (2010; 1994; 1974), discutem-se as especificidades do campo jornalístico e a sua relação com o campo político. O entendimento da lógica dos campos permite compreender as disputas por capital simbólico travadas nessas esferas da sociedade e os valores provenientes dela que são distribuídos pela imprensa. Com a referência do habitus jornalístico, discutem-se as especificidades do processo de estruturação da notícia a partir da bibliografia de estudiosos da área, principalmente sob o ponto de vista do acontecimento, do agendamento, das fontes e, sobretudo, do enquadramento noticioso. Aprofunda-se na questão de análise com uma perspectiva metodológica vinculada à frame analysis filiada em Gamson e Lasch (1980) e Gamson e Modigliani (1989). O método de análise indica a presença de 17 principais enquadramentos sobre governo Sartori. Eles estão condensados em pacotes interpretativos dos quais se extraem assinaturas que indicam o núcleo dos frames que compõem cada pacote. As assinaturas identificadas nesta dissertação indicam a organização dos enquadramentos de modo polarizado, com predominância de enquadramentos de contestação ao governo frente aos de reforço à administração. O primeiro grupo é composto majoritariamente por fontes independentes ligadas às entidades de representação sindical do funcionalismo gaúcho. No extremo oposto, vê-se a predominância das fontes oficiais participantes do governo e, em menor escala, de fontes independentes integrantes de entidades empresariais. O viés mais negativo, de contestação, sugere que o governo prejudica a sociedade e os serviços públicos; adota uma postura contrária aos seus funcionários; age demagogicamente e de modo incoerente e contraditório; tem ações confusas; demora em atuar em questões prioritárias e, além de ser displicente e não se comunicar bem, promove uma sensação de caos na sociedade. O ponto de vista mais positivo, de reforço, defende que o Poder Executivo é prudente, estrategista e focado na eficiência e que mantém um esforço para cumprir as suas obrigações; que não prejudica a população, apenas assume uma postura realista e transparente nas suas medidas. Além dos frames, tem-se a indicação dos principais grupos de fontes que disputam o poder simbólico do campo político no campo jornalístico: governistas e sindicalistas. Os principais enquadramentos originados no complexo fluxo que decorre desde o acontecimento até a publicação também são inseridos em um esquema baseado em Charaudeau (2015a) que resume a posição ocupada pelas fontes e demais atores no processo. Esses enquadramentos se originam de 1013 citações, das quais 560 foram destacadas para compor a análise. Por fim, tem-se que a contribuição das fontes nos 17 principais pacotes que sintetizam os enquadramentos do ano vão ao encontro da teoria de Bourdieu com o reforço às regras de funcionamento do campo jornalístico.
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