Doenças em gatos de abrigos na região central do Rio Grande do Sul
Abstract
Abrigos de animais são domicílios privados que alojam gatos abandonados, os quais são
mantidos no local por períodos indefinidos. Esses locais são considerados sistemas de
criação intensiva, onde a exposição, a susceptibilidade e a transmissão de doenças
infecciosas acabam por serem amplificadas. Entre as doenças observadas em gatos de
abrigo, podem-se citar as que acometem a cavidade oral, entre elas, a doença periodontal
(DP) e a gengivoestomatite crônica felina (GECF). A DP e a GECF tem etiologia
multifatorial e acredita-se que os retrovírus possam estar envolvidos na progressão e
severidade das doenças. O objetivo do primeiro estudo foi identificar as principais afecções
orais inflamatórias em gatos de abrigos e verificar os resultados dos testes para o vírus da
imunodeficiência felina (FIV) e o vírus da leucemia felina (FeLV). Foram incluídos 43
felinos provenientes de abrigos privados localizados na Região Central do Rio Grande do
Sul que apresentavam lesões orais clinicamente evidentes, independente de idade, raça,
gênero e estado reprodutivo. Em todos os gatos foram realizados testes sorológicos para
FIV e FeLV e obtidas informações referentes ao sistema de criação. Em 16 gatos (37,2%), o
sistema de criação era livre, enquanto que em 27 (62,8%) era restrito. Dos 43 gatos com
lesões orais, em 29 (67,44%) foi verificado somente um tipo de lesão, caracterizado como
periodontite em 22 gatos (51,16%), seguido de gengivite (n=06) (13,95%) e estomatite
(n=01) (2,32%). Lesões concomitantes de estomatite e periodontite foram encontradas nos
14 gatos (100%) restantes. Quanto aos resultados dos testes para retrovírus, nove (20,93%)
dos 43 felinos testados, foram positivos somente para FIV. Em sete gatos (16,28%) foi
observada coinfecção pelos dois vírus. Em nenhum gato foi observado soropositividade
somente para FeLV. Dos seis gatos com gengivite, nenhum foi positivo para FIV e FeLV;
um gato com estomatite foi positivo para FIV e FeLV; dos 22 gatos com periodontite, seis
(27,27%) foram FIV e dois (9,09%) FIV/FeLV positivos; e dos 14 com estomatite e
periodontite, três (21,43%) foram FIV e quatro (28,57%) FIV/FeLV positivos. Quanto ao
diagnóstico, em 28 gatos (65,1%) foi observada somente doença periodontal (DP), em um
(2,32%) somente gengivoestomatite crônica felina (GECF) e em 14 gatos (32,5%) DP e
GECF. Diante dos resultados obtidos, pode-se concluir que as principais lesões orais
encontradas em gatos de abrigos da Região Central do RS foram gengivite, estomatite e
periodontite; a periodontite associada ou não a estomatite foi a lesão oral mais frequente nos
gatos positivos para FIV e/ou FeLV. O segundo estudo que compõe esta tese trata-se de um
relato de síndrome da fragilidade cutânea adquirida, considerada uma doença dermatológica
rara em gatos. Foi atendido no Hospital Veterinário Universitário de uma Instituição, um
felino, macho, sete anos de idade, sem raça definida, adotado de um abrigo, com histórico
de polifagia, poliúria, polidipsia e lesões de pele ulceradas no tronco e região cervical com
evolução de dois meses e de difícil cicatrização. O nível glicêmico em jejum, o teste de
supressão com dexametasona e o aumento bilateral das glândulas adrenais observadas pela
ultrassonografia revelaram diabetes mellitus e hiperadrenocorticismo espontâneo,
respectivamente. Na histologia observou-se epiderme acentuadamente fina e moderada
atrofia dérmica, com fibras colágenas finas e desorganizadas, indicativas de síndrome da
fragilidade cutânea. Mesmo com a terapia para o hiperadrenocorticismo, houve recidiva das
lesões de pele que somente apresentaram melhora após cinco meses de tratamento com
trilostano.
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