Intoxicação por Cycas revoluta como causa de hepatopatia crônica em cães
Resumo
Na rotina da clínica médica de pequenos animais as intoxicações têm uma ocorrência relativamente frequente, mas seu diagnóstico muitas vezes é difícil pela falta de exames específicos. Este artigo relata os efeitos da intoxicação por Cycas revoluta, uma planta ornamental muito utilizada no paisagismo de ambientes internos e externos, em três cães atendidos no Hospital Veterinário Universitário da UFSM. A ingestão desta planta pode causar hepatotoxicidade, transtornos gastrointestinais agudos e alterações neurológicas. Os animais deste estudo mantiveram-se assintomáticos em média por 21 dias depois de um episódio de vômito agudo após a ingestão das sementes de cica. No primeiro atendimento todos apresentavam ascite, atividade sérica elevada de fosfatase alcalina e alanina aminotransferase, hipoproteinemia e hipoalbuminemia, diferentemente dos relatos de literatura, que apontam sinais gastrintestinais agudos e baixa frequência de ascite. Os animais intoxicados tiveram uma evolução prolongada da doença, com piora progressiva da função hepática e desenvolvimento de anemia regenerativa crônica, associada à perda crônica de sangue pelo trato gastrintestinal, confirmada pela presença de sangue oculto fecal. Apesar da terapia de suporte adotada, todos os animais morreram, diferente da taxa de mortalidade entre 30 e 50% relatada na literatura. Esses achados apontam para a necessidade da inclusão da intoxicação por Cycas revoluta como diagnóstico diferencial em cães com sinais de vômito agudo, insuficiência hepática crônica e anemia progressiva, já que não existem exames ou achados laboratoriais ou patológicos específicos e a relação etiológica deve ser baseada na observação ou na possibilidade de ingestão da planta.