Agressão interespecífica em lagostins: invasões biológicas, dominância e exclusão competitiva (Crustacea: Astacidea)
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2016-01-29Metadatos
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A agressão interespecífica é um fenômeno biológico de ocorrência muito comum, mas que ainda é muito pouco compreendida, estando relacionada com a obtenção de recursos, padrões de distribuição geográfica e substituição de espécies, no caso de invasões biológicas. Sua melhor compreensão pode contribuir para o aumento do conhecimento em diferentes áreas, tais como ecologia, evolução, biogeografia e biologia da conservação. Um bom grupo modelo para se estudar a agressão interespecífica são os crustáceos decápodos, pois estes respondem bem à condições laboratoriais, e a agressão é um aspecto importante da ecologia de muitas espécies. O objetivo desta tese é utilizar decápodos como modelos para investigar a agressão interespecífica em três contextos diferentes: invasões biológicas, ingenuidade de competidor e desenho experimental. No primeiro capítulo, investigamos a relação do lagostim nativo Parastacus brasiliensis com o invasor Procambarus clarkii, para compreender as possíveis consequências da interação entre esses lagostins, visto que a espécie invasora ainda não entrou em contato com o nativo. Experimentos relizados com animais de tamanho semelhante demonstraram que a espécie invasora vence mais interações, é mais agressiva, alcança o recurso mais rápido e mantém a posse do recurso disputado por mais tempo do que a espécie nativa. Confrontos interespecíficos também escalonaram mais rapidamente do que confrontos intraespecíficos. Esses resultados significam que P. clarkii representa uma ameaça séria para espécies nativas, especialmente considerando que este invasor atinge maiores tamanhos e é mais fecundo do que as espécies nativas de nicho semelhante. No segundo capítulo, investigamos a agressão interespecífica entre P. clarkii e outras três espécies de lagostins invasores: Orconectes limosus, Pacifastacus leniusculus e Astacus leptodactylus. Essas interações foram comparadas com interações intraespecíficas de P. clarkii. Todas as interações foram repetidas ao longo de três dias consecutivos. Os resultados demonstraram que a duração do primeiro embate, duração média dos embates, tempo total em confronto, número de embates e maior nível agressivo diferem entre os dias apenas para as interações intraespecíficas, sendo maiores no primeiro dia, em relação ao segundo e terceiro dias. Em contraste, nos grupos interespecíficos apenas o maior nível agressivo diferiu significativamente, entre o primeiro e o segundo dia dos confrontos com O. limosus. Também encontramos diferenças para a latência e tempo até o maior nível agressivo, no primeiro dia de interação, indicando que confrontos envolvendo P. leniusculus tendem a escalonar mais rápido do que os envolvendo outras combinações de espécies. Nas combinações de espécies testadas, não parece haver formação de hierarquias de dominância entre espécies sem histórico de co-existência prévia, já que os níveis agressivos não diminuíram ao longo do tempo, indicando que a não-formação de ordens estáveis de dominância pode ser um fator impotante em invasões biológicas. No terceiro e último capítulo, investigamos interações agressivas entre o lagostim P. brasiliensis e um competidor nativo, o anomuro Aegla longirostri, com o objetivo de testar qual o critério mais parcimonioso para se delinear experimentos entre competidores com morfologias marcadamente distintas. Foram realizados confrontos entre pares interespecíficos com indivíduos de tamanho aleatório, para os quais determinamos a diferença de tamanho, diferença de peso e diferença na força do armamento. Realizamos uma série de modelos para testar se essas variáveis eram capazes de prever a espécie vencedora, o número de embates agressivos, a duração do primeiro embate, a duração média dos embates, o tempo total em confronto, o período de latência e o tempo até o maior nível agressivo. A diferença de força foi capaz de prever a espécie vencedora, sendo que a probabilidade de A. longirostri vencer um confronto é maior à medida que a diferença de força entre os animais diminui, indicando que este eglídeo está em vantagem quando os animais são equivalentes em força. Isso também indica que entre competidores de formas distintas, a força do armamento talvez seja o melhor preditor de sucesso em interações agressivas. A diferença de tamanho estava relacionada com o tempo até o escalonamento máximo, e confrontos escalonaram mais rápido a medida que a diferença de tamanho aumentava, o que pode se dever ao fato de animais maiores se perceberem como potenciais ganhadores de confrontos, embora essa hipótese necessite ser testada no futuro. No geral, os resultados indicam que a agressão interespecífica é um fenômeno marcente nos casos investigados nesta tese, e que necessita claramente de um framework que unifique a esparsa literatura acerca do tema e forneça claras direções futuras para pesquisadores interessados no tema.
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