Influência da suplementação de ácidos graxos em diferentes fases de desenvolvimento de ratos: avaliações comportamentais, bioquímicas e moleculares
Resumo
Os ácidos graxos (AG) são constituintes importantes dos fosfolipídeos das membranas e desempenham importantes funções no sistema nervoso central (SNC). Evidências sugerem que a nutrição materna durante períodos iniciais de desenvolvimento está diretamente relacionada ao adequado desenvolvimento do feto, recém-nascido e adulto uma vez que neste período ocorre a transferência dos ácidos graxos poli-insaturadosde cadeia longa através da placenta e do leite, enquanto que uma nutrição materna inadequada pode alterar ambos os parâmetros morfológicos e fisiológicos dos filhotes. Nas décadas recentes, foram observadas mudanças nos hábitos alimentares, as quais possibilitaram o aumento do consumo de ácidos graxos trans, em detrimento do consumo de ácidos graxos essenciais, principalmente os da família n-3. Tais alterações podem prejudicar a neuroplasticidade e favorecer o desenvolvimento de doenças neuropsiquiátricas. Além disso, situações frequentes de estresse devido a pressão do mundo exterior também podem estar associadas com o desenvolvimento de doenças que envolvem o SNC. Neste estudo, nós avaliamos a influência do consumo ou suplementação de diferentes ácidos graxos durante o período perinatal sobre alterações comportamentais, bioquímicas e moleculares em ratos adultos. A partir dos resultados apresentados no artigo 1, foi possível observar os efeitos benéficos do consumo de uma dieta enriquecida com azeite de oliva (20%) em diferentes fases do desenvolvimento, como gestação, lactação ou após o desmame dos filhotes até a idade adulta. No presente estudo, contatou-se a redução do peso corporal e estresse oxidativo em todos os períodos analisados, além do aumento da expressão de fatores neurotróficos como BDNF e FGF-2 após consumo da dieta contendo azeite de oliva durante o período perinatal. No artigo 2, foi avaliada a relação entre o consumo prolongado de gordura vegetal hidrogenada (GVH), rica em AG trans, em diferentes períodos da vida de ratos, e o desenvolvimento de sintomas de hiperatividade. O consumo de gordura trans, por 10 meses, bem como a suplementação durante a gravidez e lactação ao longo de duas gerações sequenciais de animais induziu comportamento ativo no teste do nado forçado. Também, a suplementação com GVH aumentou a atividade locomotora nos animais, antes e depois da administração de anfetamina. Da mesma forma, a suplementação com GVH durante a gestação e lactação foi associada ao aumento da atividade locomotora em ambos os ratos jovens e adultos após exposição à anfetamina. Além disso, a suplementação com gordura trans ao longo de duas gerações sequenciais de animais também aumentou a locomoção e atividade exploratória em animais expostos ao estresse. Na sequência do estudo, ratas foram suplementadas com óleo de soja/óleo de peixe (OS/OP, razão ótima de ácidos graxos n-6/n-3) ou GVH durante o período da gestação ou lactação e os filhotes adultos foram expostos ao protocolo de estresse crônico leve. Em geral, houve maior incorporação de DHA e ARA durante o período da gestação e LA e ALA durante a lactação e somente a suplementação com GVH permitiu a incorporação de AG trans nas membranas neuronais. Além disso, filhotes adultos cujas mães foram suplementadas com GVH mostraram prejuízo na memória de curto e longo prazo antes e após a exposição ao estresse, além de efeitos deletérios sobre marcadores moleculares. Tomados em conjunto, os dados apresentados nesta tese sugerem que uma alimentação saudável durante períodos iniciais do desenvolvimento apresenta efeitos benéficos sobre o SNC, enquanto que o aumento do consumo de alimentos industrializados, os quais são ricos em ácidos graxos trans, pode estar envolvido com o desenvolvimento de doenças neuropsiquiátricas, possivelmente em decorrência das alterações na composição fosfolipídica das membranas neuronais.
Coleções
Os arquivos de licença a seguir estão associados a este item: