Óleos essenciais de Myrcia sylvatica (G. Mey.) DC. e Curcuma longa L. como anestésicos para peixes: efeitos sobre as respostas fisiológicas
Resumo
O uso de substâncias anestésicas é necessário para reduzir o estresse e proporcionar o bem-estar dos peixes
durante as práticas da aquicultura. Neste sentido, objetivou-se investigar a utilização dos óleos essenciais
(OEs) de Myrcia sylvativa (OEMS) e Curcuma longa (OECL) como anestésicos em diferentes espécies de
peixes e os possíveis efeitos sobre as respostas fisiológicas desses organismos. Primeiramente, determinouse
a eficácia de OEMS e OECL como anestésicos para Colossoma macropomum (tambaqui), e avaliou-se
os efeitos da anestesia e sedação com esses OEs. Os peixes foram divididos em 8 grupos e expostos à
concentrações anestésicas (200 μL/L OEMS e 500 μL/L OECL) e sedativas (10 μL/L OEMS e 40 μL/L
OECL) durante 5 min e 6 h, respectivamente; ou, à simulação de anestesia e sedação (grupos controle e
etanol, tempos 5 min e 6 h, sem uso de anestésicos). Após exposição, plasma e tecidos foram coletados
para avaliar os indicadores primários (cortisol) e secundários (índices bioquímicos, metabolismo hepático,
biomarcadores oxidativos) de estresse (artigo 1). Em um segundo momento, investigou-se os efeitos
bioquímicos e oxidativos no plasma e tecidos de Brycon amazonicus (matrinxã) submetidos à anestesia
rápida (5 min) ou sedação prolongada (360 min, simulando o transporte) com OEMS (200 μL/L e 10 μL/L,
respectivamente) e OECL (500 μL/L e 40 μL/L, respectivamente) (artigo 2). Finalmente, avaliou-se os
efeitos da manipulação inicial e adição de OEMS no transporte sobre a ativação das vias de estresse em
Rhamdia quelen (jundiá). Os peixes foram capturados, transferidos para tanques de 100 L (densidade 100
g/L) e amostrados após 24 h (grupo pré-transporte). Os peixes restantes foram colocados em sacos plásticos
contendo 5 L de água (densidade 150 g/L) com diferentes concentrações de OEMS (0, 25 ou 35 μL/L,
diluídos em 315 μL/L de etanol) e transportados durante 6 h. Foram avaliados os indicadores de estresse e
metabolismo, bem como a expressão de mRNA de diferentes hormônios. Além disso, cDNAs codificando
o hormônio liberador de corticotropina (CRH) e duas subunidades de proopiomelanocortina (POMCa e
POMCb) foram clonados a partir do cérebro e hipófise de jundiá, respectivamente (manuscrito). Os dois
OEs demonstraram ser eficazes como anestésicos para tambaqui nas concentrações de 100, 200 e 300 μL/L
de OEMS e 200, 300 e 500 μL/L de OECL. A anestesia e sedação com OEs reduziu os níveis de
lipoperoxidação (LPO), e aumentou a atividade das enzimas antioxidantes (superóxido dismutase- SOD,
catalase- CAT, glutationa peroxidase- GPx, glutationa redutase- GR e glutationa-S-transferase- GST), o
conteúdo de tiois não proteicos e a capacidade antioxidante nos tecidos de tambaquis, em relação ao
controle (artigo 1). Por sua vez, a simulação do transporte (sem OEs) aumentou os níveis de LPO nas
brânquias e rins de matrinxã; parâmetro este que foi reduzido no cérebro, brânquias, fígado e rim de peixes
sedados e anestesiados com OEs. A anestesia com OEs aumentou a atividade da SOD e GST no cérebro, e
CAT no fígado e brânquias. A sedação prolongada com OEs aumentou a atividade da SOD, GPx e GR no
cérebro, CAT no fígado, GPx e GR nas brânquias, e SOD no rim. O conteúdo de tiois não proteicos e a
capacidade antioxidante total dos tecidos de matrinxã aumentou após anestesia e sedação com os OEs
(artigo 2). Os níveis de cortisol e a expressão de CRH aumentaram após 24 h de captura e manuseio do
jundiá, enquanto que os níveis de glicose aumentaram após o transporte. A adição de OEMS no transporte
reduziu os níveis de cortisol e lactato em relação ao controle. A expressão dos mRNAs de CRH, POMCb,
prolactina e somatolactina foi menor após o transporte com OEMS em relação ao controle, sugerindo o
envolvimento desses hormônios na ativação das vias de estresse causada por eventos de pré e póstransporte
(manuscrito). Assim, sugere-se o uso de OEMS e OECL como sedativos e anestésicos nas
práticas da aquicultura para melhorar a sobrevivência e o bem-estar animal, respeitando as concentrações
recomendadas, para redução do estresse e proteção antioxidante dos tecidos.
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