Desejo & Violência: a personagem Oothoon sob o enfoque dos pensamentos de William Blake e Mary Wollstonecraft
Resumo
O tema da pesquisa surgiu em razão de minha admiração por William Blake e Mary Wollstonecraft, dois autores que mesmo à margem de seus pares, segregados por suas particularidades, profissão ou gênero, conseguiram fazer parte do centro intelectual da Londres dos anos 1790 e mantiveram em carne viva debates atemporais sobre vários dos intermináveis questionamentos humanos. Entre 1792-1793, esses dois jovens autores publicaram duas obras que produzem reflexões sobre a sexualidade, o casamento e a educação das mulheres. Na obra Visions of the Daughters of Albion (1793) – um poema iluminado em verso branco e tempo contínuo, composto de onze lâminas, três personagens e um estupro – a voz que narra todo o conflito é a de uma mulher, Oothoon. Em Reivindicação dos Direitos das Mulheres: o Primeiro Grito Feminista (1792), uma mulher em plena sociedade patriarcal inglesa levanta bandeiras quanto à emancipação de seu gênero. Interessou-me não só a atmosfera coletiva, mas incisivamente esses dois seres particulares que mesmo tendo sido moldados pelas dores, circunstâncias e conflitos de sua época, conseguiram subverter as expectativas de sua classe, gênero, religião e sistema político. Com essa pesquisa pretendemos analisar, sob uma perspectiva feminina, quais os acontecimentos, as influências e as “energias sociais” que compunham a vida e a atmosfera do período entre 1790 e 1793, intervalo em que Visions of the Daughters of Albion foi escrito e publicado por William Blake – seguindo a tradição do Novo Historicismo através de Stephen Greenblatt. Nossa intenção é pesquisar como o autor trata e apresenta a questão da sexualidade feminina, da educação e do casamento, através da construção da personagem Oothoon, no decorrer dessa obra iluminada – tanto no campo da visualidade quanto na seara textual, isso porque esta obra de Blake é composta por onze gravuras acompanhadas de poemas, na conhecida arte compósita que qualifica-lhe como um artista visionário. Assim como pretendemos observar a possível importância sobre Blake das ideias contidas em Reivindicação dos Direitos das Mulheres: o Primeiro Grito Feminista (1792) de Mary Wollstonecraft, uma das primeiras feministas inglesas, durante a escrita do poema. Identificar como esses questionamentos e referências são expressados e qual a natureza e as consequências dessas representações em texto e imagem é o que nos propomos a pesquisar. Para tanto, as leituras de W. J. T. Mitchel, Peter Ackroyd e David V. Erdman tornaram-se essenciais, assim como a ampla fortuna crítica sobre Blake e sua obra. Entre esses autores, podemos citar Anne K. Mellor, Harriet Kramer Linkin, Robert Essick e Susan Fox. E ainda, aqueles que veem uma proximidade do artista com Wollstonecraft, como Mary Poovey, Thomas Vogler e P. Abbasi.
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