Estudo da toxicidade induzida por metilglioxal em células sanguíneas humanas: efeito protetor do Syzigium cumini
Resumo
O metilglioxal (MG) é um composto α-oxoaldeído formado principalmente como subproduto
da glicólise. Por ser altamente glicante é considerado o principal precursor dos produtos finais
de glicação avançada (AGES). Apesar de a metabolização fisiológica ocorrer por diferentes
vias, níveis elevados de MG podem ser encontrados em indivíduos com diabetes mellitus e
outras patologias como doença de Alzheimer e câncer. Vários trabalhos voltados para a
toxicologia do MG mostram que a glicação e o estresse oxidativo são fenômenos envolvidos
nos seus efeitos deletérios. No entanto, dados sobre os efeitos tóxicos e alvos moleculares
específicos do composto nos diferentes órgãos/tecidos ainda são escassos na literatura. O
presente estudo objetivou analisar os efeitos citotóxicos induzidos pelo MG em células
sanguíneas humanas, bem como verificar o possível efeito protetor de um agente
etnofarmacológico utilizado no tratamento de diferentes patologias, especialmente diabetes
mellitus: o extrato aquoso das folhas de Syzygium cumini (Ext). Eritrócitos, leucócitos e
plaquetas foram incubados com diferentes concentrações de MG por períodos de tempo que
variaram de acordo com o ensaio e tipo celular. Em eritrócitos a exposição ao MG culminou
com hemólise, aumento da fragilidade osmótica e diminuição dos níveis de grupos amino
(NH3
+) livres. Em leucócitos, o composto causou danos ao DNA, aumento dos níveis de
produtos glicados fluorescentes e diminuição da viabilidade celular (especialmente dos
agranulócitos). Uma diminuição da atividade das enzimas ectonucleotidases, nucleotidases e
adenosina desaminase foram observadas nas plaquetas expostas ao MG. O tratamento com o
Ext preveniu a maioria dos danos induzidos pelo MG, especialmente os efeitos hemolíticos e
genotóxicos. Em um outro conjunto de experimentos realizado com leucócitos, observou-se
que a exposição ao MG aumentou os níveis de espécies reativas, aumentou o tamanho e a
granulosidade das células e também induziu apoptose/necrose. Em termos de alvos
moleculares, esses eventos foram acompanhados por alterações na expressão dos genes
responsivos a apoptose (AIF, BAD, BCl-2), ao status redox (enzimas superóxido dismutase,
catalase e glutationa-S-transferase e fator de transcrição Nrf2). Um aumento na expressão do
receptor de AGES (RAGE) e da enzima glioxalase-1 também foi verificado nestas células. O
conjunto de resultados obtidos neste estudo ajudam a compreender mais precisamente os efeitos
que o MG pode causar nas células sanguíneas bem como indicam a planta S. cumini como um
agente promissor para estudos farmacológicos que visem prevenir/reduzir os efeitos tóxicos do
MG.
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