Variação geográfica do tamanho e forma do crânio de mamíferos com ampla distribuição na América do Sul (Marsupialia, Xenarthra e Glires)
Resumo
Os crânios são estruturas morfológicas complexas que apresentam plasticidade fenotípica e adaptações
a diferentes funções e processos e estão sob diferentes pressões, como as geográficas ou ambientais. A
América do Sul é um continente latitudinalmente amplo, abrangendo uma variedade de biomas e
condições climáticas, revelando variações ecomorfológicas em muitas espécies de mamíferos. O
principal objetivo deste estudo foi investigar padrões biogeográficos e fatores determinantes
relacionados a variações cranianas em espécies e gêneros de mamíferos com ampla distribuição
geográfica na América do Sul (Marsupialia, Xenarthra e Glires), com base em dados de tamanho e
forma. A partir de fotografias cranianas de 1,017 espécimes na vista ventral em coleções científicas,
técnicas de morfometria geométrica foram usadas para entender a variação do crânio nos diferentes
grupos. Duas espécies de marsupiais foram estudadas no Capítulo I, Caluromys philander e C. lanatus,
as quais foram semelhantes na forma, demonstrando trajetórias fenotípicas similares. O efeito do
tamanho na forma (alometria) foi importante para C. lanatus, ajudando biomecanicamente em ambientes
ao sul da Amazônia. Ainda, as duas espécies foram estruturadas espacialmente, além de demonstrarem
grande influência ambiental (especialmente temperatura), seguindo o inverso a Regra de Bergmann. No
Capítulo II, três espécies da superordem Xenarthra (Bradypus variegatus, Tamandua tetradactyla, e
Dasypus novemcinctus) apresentaram uma fraca influência alométrica. Entretanto, fatores geográficos
(neutros) influenciaram a forma de B. variegatus e o tamanho de T. tetradactyla, o que poderia ser um
reflexo da baixa capacidade de mobilidade e dispersão de ambas as espécies. Mais importante, a
influência ambiental (nicho) afetou as três espécies, com destaque para B. variegatus (seguindo a regra
de Bergmann), e D. novemcinctus (espécie altamente móvel, sendo afetada localmente pelo ambiente).
O Capítulo III trata da variação da forma dos táxons Cuniculus paca, Hydrochoerus hydrochaeris,
Nectomys spp., e Sylvilagus brasiliensis. A alometria esteve presente notoriamente para o gênero
Nectomys, sugerindo uma associação com o dimorfismo sexual encontrado apenas neste gênero. A
influência ambiental foi perceptível para as espécies altamente dispersivas e com grande tamanho
corporal, como H. hydrochaeris e C. paca. Essas duas espécies também foram afetadas pelos filtros
espaciais (geografia), mas em menor grau, como ocorreu para os outros dois táxons. E por fim, o
Capítulo IV abordou mais especificamente o aparato mastigatório (conjunto dos molares e arco
zigomático) das espécies dos gêneros Rhipidomys e Nectomys. A distinção interespecífica dentro de cada
gênero foi visível para algumas espécies de Rhipidomys (tamanho e forma), enquanto as espécies de
Nectomys apresentaram fraca disparidade. Em relação às hipóteses biogeográficas, a resposta fenotípica
de cada gênero foi divergente, com a forma de Rhipidomys relacionada com a produtividade primária, e
o tamanho de Nectomys relacionado com a precipitação e temperatura. Esses resultados distintos
sugerem respostas diferentes de acordo com restrições e atributos ecológicos de cada gênero
(especialista e generalista respectivamente). De modo geral, os resultados encontrados neste estudo
sugerem que a resposta de cada táxon frente às várias influências sofridas não é necessariamente a
mesma, mas depende de suas características e particularidades que induzem a modificações cranianas
distintas.
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