"Um exército de mascarados": aprendizados e engajamento sindical em tempos de pandemia
Resumo
A pandemia do COVID-19 e o tempo imprevisto de distanciamento social impuseram muitos
constrangimentos e desafios à atuação política e reivindicatória do movimento sindical.
Diante disso, esta pesquisa objetivou compreender como foi transformado o engajamento dos
integrantes dos sindicatos durante o tempo de pandemia, com base nas contribuições da
antropologia da política. A partir de uma caracterização do perfil dos integrantes do sindicato
dos bancários, serão descritos dois eventos – a eleição da nova diretoria e uma ação
reivindicatória – num sindicato do interior do Rio Grande do Sul, assim como diversas
campanhas de reivindicação de direitos. Parte-se de uma perspectiva de trabalho de campo
reflexivo que permitiu vislumbrar as transformações ocorridas no engajamento sindical ao ter
que readequar os objetivos e métodos desta pesquisa no contexto do distanciamento social.
Como resultado tem-se que os dirigentes sindicais bancários, no limiar de uma nova diretoria,
tiveram que aprender e reaprender novas formas de levar a frente as eleições e os repertórios
de mobilização. A eleição sindical exigiu dos dirigentes a construção de “saber fazer”
múltiplos e o acionamento de seus capitais militantes acumulados ao longo do tempo, assim
como a reinvenção da forma de fazer uma eleição – esta vez virtual –, bem como a criação de
um novo eleitor apto a participar da mesma e legitimar o processo eleitoral e seus resultados.
A ação reivindicatória requereu a reinvenção dos repertórios de mobilização, que tiveram no
corpo e na proteção à vida seu foco, como “ocupar” uma agência bancária a partir de um caso
de coronavírus para cobrar o cumprimento dos protocolos sanitários, a denúncia das
demissões de bancários durante a pandemia, e a produção de dados para uma adequada
negociação e regulamentação do teletrabalho. Desta forma, os repertórios de mobilização
postos em prática resultaram em um embricamento entre “novos” e “velhos” “saber fazer”
impostos, em parte, pela pandemia, mas igualmente, resultado da erupção de uma nova
diretoria sindical e da interação entre “novos” e “velhos” dirigentes sindicais.
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