Atividade antibacteriana de porfirinas tetracatiônicas frente às bactérias isoladas de otite canina
Resumo
A otite externa canina é uma doença multifatorial, comumente encontrada na prática veterinária
e estima-se que pode afetar até 20% dos cães. Os agentes bacterianos considerados patógenos
mais importantes como causa de otite externa em cães são Staphylococcus sp., Pseudomonas
sp., Escherichia coli e Proteus sp. Nesses casos, cada vez mais tem se isolado bactérias
resistentes aos antimicrobianos tradicionais e, assim, os desafios estão voltados ao combate
dessas bactérias resistentes, principalmente com o uso de terapias alternativas. A terapia
fotodinâmica é um método alternativo que pode ser aplicado na eliminação de microorganismos
em fluidos e soluções, superfícies e materiais contaminados, bem como em
infecções, especialmente causadas por agentes bacterianos resistentes aos antimicrobianos
convencionais. Esta terapia utiliza moléculas fotoativas, como as porfirinas, que são capazes de
interagir com a luz gerando espécies reativas de oxigênio que alteram estruturas e funções de
células e micro-organismos, causando apoptose e/ou inativação. Assim, o objetivo deste
trabalho foi identificar as bactérias mais frequentemente isoladas a partir de culturas de suabes
de ouvido de cães com otite na região central do estado do Rio Grande do Sul e avaliar a
atividade antibacteriana de duas metaloporfirinas tetra-catiônicas (H2TMeP e ZnTMeP) em
bactérias Gram-positivas e Gram-negativas isoladas de otite de cães e em cepas padrão. Para
isso, inicialmente foi realizado um estudo retrospectivo nos arquivos do Laboratório de
Bacteriologia da Universidade Federal de Santa Maria, Rio Grande do Sul, no período de 2000
a 2018, a fim de determinar os gêneros bacterianos mais frequentemente isoladas de cães com
otite. Os resultados deste estudo indicaram a predominância dos gêneros Staphylococcus sp.,
Pseudomonas sp. e Proteus sp. Assim, isolados clínicos e cepas padrão desses gêneros
bacterianos foram utilizados nos ensaios de atividade antibacteriana. Para isso, uma dose não
citotóxica das porfirinas, observada em células MDCK (5μM para H2TMeP e ZnTMeP) foi
incubada com uma concentração fixa de cada uma das bactérias selecionadas
(aproximadamente 1x104 UFC/mL), e expostas à luz artificial (25 mW/cm2) por 0, 30, 60 e 90
min para a fotoativação dos compostos. Após a exposição à luz, 10μL da solução de bactérias
Gram-positivas e 50 μL da solução de Gram-negativas foram semeadas e incubadas por 24
horas a 37ºC. No dia seguinte, foi realizada a contagem das unidades formadoras de colônia.
Staphylococcus coagulase positiva e Staphylococcus coagulase negativa foram inativados após
30 min de exposição a luz por ambas porfirinas. Para as bactérias Gram-negativas, a inativação
ocorreu após 60 min de fotoativação utilizando a porfirina H2TMeP e 90 minutos com a
porfirina ZnTMeP. Além disso, comprovou-se através da utilização de sequestradores de
espécies reativas de oxigênio, que a ação dessas porfirinas provavelmente ocorreu pela
produção de oxigênio singleto. Os resultados demonstram que as porfirinas tetra-catiônicas
H2TMeP e ZnTMeP possuem atividade bactericida frente às principais bactérias isoladas de
otite de cães, e podem ser promissoras opções para serem empregadas como alternativa de
controle e tratamento em casos de otites com etiologia bacteriana resistente aos antimicrobianos
convencionais.
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