De Salem a Eastwick: a figura da bruxa na representação da presença feminina

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Date
2021-01-05Primeiro membro da banca
Nigro, Cláudia Maria Ceneviva
Segundo membro da banca
Fritsch, Valter Henrique de Castro
Terceiro membro da banca
Kahmann, Andrea Cristiane
Quarto membro da banca
Bittencourt, Rita Lenira de Freitas
Metadata
Show full item recordAbstract
Esta pesquisa se originou de algumas angústias. Longe de resolvê-las, o trabalho talvez as tenha aumentado, ao menos agora consigo traçar e delinear o caminho delas. Há um ditado que diz que a ignorância é uma benção, pois quem não sabe, não sofre. A partir do meu trabalho afirmo consistentemente discordar dessa afirmação. Quem desconhece sofre também, só não sabe os motivos do sofrimento. Eu, prefiro conhecê-lo, para tentar desvendar e desmanchar suas tramas, pensando em tecer outras novas. Tecer porque é assim que se faz no texto, na narrativa, tecendo. Por séculos a cultura constitui e perpetua uma imagem estereotipada de mulher. Imagem que a coloca em um lugar atribuído pelo mundo patriarcal. Longe de apenas representar o existente no mundo referente, a representação participa também da criação deste mundo. A partir das representações nos identificamos e entendemos a nós e a sociedade na qual estamos inseridos. Diante isso, este trabalho investiga a relação entre a representação das personagens bruxas em duas narrativas, com as nossas compreensões do ser mulher ao longo da história e, principalmente, na contemporaneidade. É um trabalho de cunho literário, analisando o romance de John Updike, The Witches of Eastwick (1984), e o texto dramático de Arthur Miller, The Crucible (1953). As duas narrativas são aqui consideradas como artefatos culturais, ou artefatos narrativos, tendo como embasamento os fundamentos de narratologia, delineados por Mieke Bal. A análise é interdisciplinar, articulando leituras da história, crítica literária, narratologia e filosofia. A essência fundamental do trabalho, ou melhor, a estruturação Mãe da pesquisa, é a leitura de cunho feminista, diante de narrativas escritas por autores homens. Procurei apontar as maneiras como essas narrativas perpetuadas e reproduzidas trazem uma mulher objeto, sem espaço para ser sujeito de sua própria história. Quando o faz, é julgada, ao ponto de impossibilitar a sua identificação por parte das leitoras/res. Para pensar o exercício da leitura feminista, reflexões de Joan Scott, Judith Butler, Donna Haraway, Luce Irigaray, Thomas Laqueur, Teresa de Lauretis, Shulamith Firestone, Mary Daly, Jonathan Culler e Antoine Compagnon foram essenciais. Ademais, para observação atenta da figura da bruxa ao longo da história, o texto de Silvia Federici se tornou orientação para espinha dorsal do texto. Junto com os de Nubia Hanciau, Carlo Ginzburg e o Malleus Maleficarum. A primeira parte da tese é a leitura e articulação da teoria e crítica feministas, que orientaram a minha pesquisa em todos os sentidos; a fortuna crítica a fim de expor o trabalho da crítica ao ler as duas narrativas ficcionais; e considerações acerca da narratologia, que auxiliaram no olhar diante dos elementos narrativos principais para o estudo (personagem, narrador, focalização). A segunda e última parte, maior em extensão, compreende os três capítulos de análise que expõe a construção falocêntrica da bruxa e da mulher neste mundo feito por e para homens brancos. Seu foco é essencialmente direcionado à figura da bruxa, expressando a impossibilidade em separar a compreensão de mulher no nosso contexto social, histórico e cultural, dessa personagem sobrenatural tão instigante.
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