Conflitos interpessoais de idosas em uma instituição de longa permanência: estudo etnográfico
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Data
2020-08-28Primeiro coorientador
Borges, Zulmira Newlands
Primeiro membro da banca
Eckert, Cornelia
Segundo membro da banca
Santos, Naiana Oliveira dos
Terceiro membro da banca
Girardon-Perlini, Nara Marilene Oliveira
Quarto membro da banca
Leite, Marinês Tambara
Metadata
Mostrar registro completoResumo
Os conflitos interpessoais são inerentes ao ser humano e estão presentes no cotidiano e nas relações de idosos em instituições de longa permanência. Independente da qualidade de serviços prestados nesses locais, os efeitos da institucionalização e sua estruturação impactam na socialização de idosos, o que potencializa a ocorrência de conflitos interpessoais. Este estudo teve como objetivo geral compreender o espaço físico, as rotinas institucionais, as interações sociais e a produção de conflitos interpessoais na perspectiva de idosas em uma instituição de longa permanência. Trata-se de um estudo etnográfico, cuja imersão no campo ocorreu de agosto de 2017 a maio de 2018 em uma instituição de longa permanência para idosas localizada em um município da região central do estado do Rio Grande do Sul. Utilizou-se como técnica de produção dos dados a observação participante e o diário de campo, além de constantes revisões da literatura sobre o tema. Foram interlocutoras do estudo 17 idosas institucionalizadas. Os dados foram analisados sob a perspectiva sociocultural, com algumas ferramentas teóricas relacionadas às instituições totais descritas por Goffman. A investigação foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa, sob CAAE 70574517.6.0000.5346. Os resultados evidenciaram que no cotidiano institucional o fator coletividade sobressai ao individual. Os espaços individuais limitavam-se ao dormitório e a um local de preferência que, quando ultrapassados, eram motivações para conflitos. A coletivização de produtos de higiene, roupas íntimas, utensílios e vestuário era imposta pelos profissionais de enfermagem da instituição. O conflito era visto, pela instituição, como uma insubordinação das idosas, entretanto, os dados desta pesquisa evidenciam que ele ocorria como uma forma de resistência das idosas em manter a sua individualidade; em um contexto de constante “mortificação do eu”. As redes de sociabilidade, sejam nas relações sociais internas ou externas, permitiam movimentos de liberdade por meio do fortalecimento de vínculos de apoio e proteção e do acesso a pertences de sua preferência. Alguns conflitos eram precedidos de discórdias familiares ou potencializados em situações de transtorno mental. A socialização das idosas era marcada por relações de domínio pelas hierarquias relacionadas às autoridades institucionais e profissionais. As idosas vivenciavam um constante processo de sujeição a infantilizações e padronizações que desconsideravam suas preferências e individualidades. As intrigas entre as idosas e a entrada de novas moradoras predispunham a situações de conflito baseadas em pré-julgamentos. Os resultados obtidos apontaram para a tese de que os conflitos interpessoais na instituição de longa permanência são impulsionados por um contexto de normativas e rotinas padronizadas que restringem fisicamente, socialmente e emocionalmente a vida das idosas institucionalizadas. Em resposta às constantes “mutilações do eu”, as idosas recorrem aos conflitos como um movimento de liberdade e potencial para a mudança, para assegurar a individualidade, a autonomia - escolhas essenciais para si. Apesar de estarem sobre a vigência das mesmas rotinas e regras, as diferenças relacionadas à condição econômica e social, à dependência e à personalidade individual intensificam os movimentos de conflito. Este estudo apresenta reflexões relevantes para o conhecimento científico em enfermagem, revelando a potencialidade da pesquisa etnográfica para a compreensão da multiplicidade de fatores que envolvem a assistência à pessoa idosa considerando o contexto sociocultural no qual está inserida.
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