Isolamento e caracterização de Buchananella hordeovulneris de piotórax felino
Resumo
A actinomicose é uma doença causada por bactérias filamentosas anaeróbicas facultativas ou capnofílicas que, na grande maioria, são habitantes comensais da mucosa orofaríngea dos animais. Essas bactérias são frequentemente subdiagnosticadas, pois apresentam colônias pequenas, de crescimento fastidioso e, geralmente, são suprimidas pelo crescimento de outras bactérias de crescimento rápido, dificultando o seu isolamento a partir de amostras clínicas. A actinomicose pode ser causada por bactérias de diversos gêneros, além de Actinomyces, que compartilham várias características fenotípicas e morfológicas, sendo necessária a utilização de recursos moleculares para identificação precisa desses agentes. Assim, o objetivo deste trabalho é descrever o isolamento e a caracterização de Buchananella hordeovulneris, antigamente denominada de Actinomyces hordeovulneris, associada a um caso de actinomicose torácica em um felino. Um gato, fêmea, sem raça definida, de 1 ano, foi levado ao hospital veterinário na região central do Rio Grande do Sul, Brasil, apresentando taquipneia, baixa amplitude torácica, padrão restritivo de respiração e mucosas cianóticas, dois dias após uma cirurgia de castração eletiva. Realizou-se exame de radiografia torácica onde se identificou efusão pleural e coletou-se, por toracocentese, 100 a 200 mL de fluido cavitário Na análise citológica, o fluido foi caracterizado como exudato, apresentava-se purulento e avermelhado, continha numerosos grânulos branco-amarelados, e estruturas filamentosas e ramificadas. O fluido foi inoculado em ágar com 5% de sangue de carneiro e incubado em aerobiose e microaerobiose a 37oC. Após 72h de incubação foram observadas colônias pequenas, secas e opacas, medindo 0,5 a 1 mm de diâmetro. Os testes fenotípicos identificaram uma bactéria Gram-positiva, imóvel, de metabolismo fermentativo lento e fraca produtora de catalase, incapaz de converter triptofano em indol e hidrolisar esculina. Os açúcares glicose, lactose, manitol, rafinose sorbitol, sacarose e trealose foram utilizados, ao contrário de e arabinose, ribose e xilose. As colônias foram submetidas à caracterização molecular, através da amplificação parcial e sequenciamento da região 16S rRNA. A sequência de nucleotídeos do isolado (SB 92/21, acesso Genbank OM281739) apresentou alta identidade com Actinomyces spp. (98,97%; KM461981.1) isolado de amostra oral de gato. A identidade dos nucleotídeos variou de 96,81% a 99,32% com sequências de Buchananella hordeovulneris, aceitando 85 a 100% de cobertura. Na árvore filogenética, SB92/21 agrupou com sequências de B. hordeovulneris. O animal foi tratado com eritromicina (10 mg/kg) durante dez dias e houve completa resolução clínica. Embora esse microrganismo já tenha sido detectado em infecções torácicas de pequenos animais, o seu isolamento é incomum, pois amostras suspeitas necessitam de condições e tempo de incubação ideais, e sua completa identificação depende de ferramentas moleculares. Assim, esses achados indicam que B. hordeovulneris precisa ser incluído no diagnóstico diferencial de outros Actinomyces spp. e Nocardia spp. causadores de piotórax em gatos, e que a confirmação taxonômica de microrganismos patogênicos para animais é importante para o conhecimento da epidemiologia das doenças.
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