Uma leitura epistêmica da teoria da identidade pessoal de John Locke e sua relação com a memória no capítulo 27 do livro 2 do Ensaio sobre o entendimento humano
Fecha
2022-06-15Primeiro membro da banca
Sant'Anna, André Rosolem
Segundo membro da banca
Marques, Beatriz Sorrentino
Terceiro membro da banca
Williges, Flavio
Quarto membro da banca
Silva, Mitieli Seixas da
Metadatos
Mostrar el registro completo del ítemResumen
A interpretação tradicional da teoria de John Locke sobre a identidade pessoal diz que ele teria
uma tese metafísica sobre a identidade pessoal cujo critério é a memória episódica. Neste
trabalho, contesto essa interpretação tradicional e defendo que o interesse de Locke está
voltado ao problema epistêmico da identidade pessoal. Essa chave de leitura alternativa
proporciona ferramentas para lidar com as objeções que são levantadas contra a teoria de
Locke. Eu apresentarei a interpretação metafísica da teoria de Locke sobre a identidade
pessoal e suas principais objeções, a da circularidade, a da violação da transitividade da
identidade e a da exigência. Também apresentarei e contestarei a leitura de Strawson de que o
âmbito da identidade pessoal em um tempo abrange as experiências que recaem sob a esfera
da responsabilização moral, legal e afetiva de uma pessoa naquele tempo. Porém, a
interpretação de Strawson falha em reconhecer que Locke emprega conscience e
consciousness com sentidos diferentes e, por isso, acaba considerando como base o que, na
verdade, é consequência do processo de identificação. Explicarei o porquê de Locke não estar
fazendo metafísica, e sim epistemologia, no capítulo sobre a identidade através de quatro
argumentos, o do empreendimento epistêmico, o do paralelismo da formação de ideias e
descoberta de evidências, o de palavras nomearem ideias na mente e o da diferença entre
essência real e nominal. Além disso, apresentarei o projeto epistêmico de Locke na obra em
questão, explorando suas teorias das ideias, do conhecimento e da memória. A ideia de que se
é uma pessoa é formada através da experiência consciente e temos conhecimento intuitivo de
nós mesmos no presente. A possibilidade de a consciência se voltar a experiências passadas,
assumindo a forma de memória, e a experiências futuras possíveis, assumindo a forma de
prospecção, fornece evidências, no presente, de nossa própria existência continuada. Nosso
conhecimento sobre sermos o mesmo eu no passado é intuitivo, quando temos recordações em
primeira pessoa, e demonstrativo, quando temos uma cadeia de ideias que nos permite saber
que somos os mesmos. Podemos ter conhecimento sensorial e demonstrativo da identidade
diacrônica dos outros. Diferentes graus de conhecimento e certeza estão envolvidos no
conhecimento sobre a própria identidade e sobre a identidade dos outros e que essas
diferenças estão por trás da demarcação feita por Locke entre a ideia de identidade de pessoas
e de seres humanos, não se tratando de uma diferença entre dois tipos de entidades, mas de
duas maneiras diferentes de conhecer. Por fim, essa versão da teoria lockeana da identidade
pessoal lida com as objeções da circularidade, da violação do princípio da transitividade da
identidade e da exigência. Além disso, exploro as implicações de a memória ser critério
epistêmico da identidade pessoal para a responsabilização e respondo a duas possíveis
objeções à teoria epistêmica da identidade pessoal. Embora este trabalho seja voltado à teoria
lockeana, pretendo que as ideias aqui propostas possam ser aproveitadas para as discussões
contemporâneas sobre possíveis relações entre memória e identidade pessoal.
Colecciones
El ítem tiene asociados los siguientes ficheros de licencia: