O discurso de Getúlio Vargas e políticas de língua: movimento da memória no imaginário de nacionalidade
Resumo
Esta pesquisa trata do imaginário de nacionalidade presente no discurso de posse de Getúlio Vargas na Academia Brasileira de Letras (ABL), em 1943, a partir da reflexão sobre o modo como a memória é atualizada e funciona em relação às políticas de silenciamento e interdição de línguas estrangeiras promulgadas pelos Decretos-Leis nº 406/1938 e nº 1545/1939, referentes ao período do Estado Novo. Para tanto, trabalhamos na perspectiva da Análise de Discurso, a partir de autores como Eni P. Orlandi, de onde nos inscrevemos para a teorização de conceitos como língua imaginária e língua fluida, políticas de língua e memória discursiva. A análise foi realizada a partir de recortes do discurso de posse organizados em três temáticas que se mostraram recorrentes no texto: o imaginário de Vargas sobre a ABL e seus ocupantes, sobre os imigrantes e sobre nação e nacionalidade. A partir desses recortes, refletimos sobre as formas de atualização do dizer a partir dos movimentos de paráfrase e polissemia, para então observarmos a incidência ou de processos de repetição, ou de processos de deslocamento. Como resultados, observamos que, mesmo o discurso de posse tendo sido proferido por ocasião da assunção à cadeira de imortal da ABL anos depois da publicação dos Decretos, Vargas não se distancia da posição-sujeito presidente da República, o que faz com que o discurso seja carregado de sentidos que parafraseiam os mesmos sentidos atribuídos à nacionalidade através das políticas de línguas vigentes e impostas pela lei, reforçando o imaginário de língua nacional como princípio e meio de construção da identidade da nação, cujo imaginário se dá através da ideia de unidade, tanto de um povo como de uma língua, pela qual os sujeitos se identificam e reafirmam seu pertencimento ao país. Com este estudo, esperamos contribuir para a área da Análise de Discurso, especialmente no que concerne aos estudos sobre Políticas de Línguas, por meio da reflexão sobre a construção do imaginário de nacionalidade proposto por artifícios político-linguísticos de que o Estado Nacional se vale para constituir o ideal de nação como território de uma única, soberana e emancipada língua.
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