O processo de desenvolvimento das redes interorganizacionais
Resumo
O presente estudo tem por objetivo compreender o processo de desenvolvimento das redes
interorganizacionais e avançar, tanto teórica quanto empiricamente, no campo da gestão das redes. As
redes interorganizacionais são aqui estudadas através da teoria do processo de Van de Ven (1992),
Van de Ven & Poole (1995) e Halinen (1998), que, por seguir diferentes lógicas, utiliza-se, de forma
integrada, das teorias do ciclo de vida, evolucionária, teleologia e dialética como meio para
compreensão e entendimento da dualidade (estático / dinâmico) de estruturas organizacionais de
eventos que ocorrem ao longo do tempo. De modo sequencial e com apoio em diferentes escolas ou
perspectivas de redes, pretende-se entender os eventos ocorridos nas redes, ao longo do tempo, e
proporcionar uma visão de como ocorrem o processo de desenvolvimento e as mudanças nas redes
interorganizacionais. A pesquisa foi realizada por um estudo multicasos, qualitativo e exploratório,
realizado através de narrativas e entrevistas focadas, por meio de uma abordagem processual, em oito
redes interorganizacionais, localizadas no Rio Grande do Sul. Analisaram-se eventos oriundos das
ações dos indivíduos chave de gestão de cada rede. Considerando a necessidade de ligação entre a
teoria, os fenômenos empíricos e a metodologia utilizada na investigação, adotou-se a abordagem
abdutiva com análise de conteúdo dos dados obtidos. Nos resultados, foi analisado e descrito cada um
dos casos, caracterizando evoluções distintas, porém com possibilidade, em um contexto geral, de
serem tratados de forma complementar. Considera-se que o programa Redes de Cooperação foi
determinante para a sensibilização e o estímulo à formação das redes. No decorrer do tempo, as ações
das equipes previstas pelo programa demonstraram a necessidade de reestruturação, para alinhar todos
os integrantes aos interesses da rede, superando interesses individuais de participação e obter a
aceitação dos demais integrantes. Outra reestruturação requerida foi a da profissionalização da rede em
relação à estratégia e às atividades. Em tal situação, a rede passa a ter, na gestão das atividades,
pessoas independentes e não mais integrantes da rede, evitando a interligação entre os interesses
individuais e os de rede. Nessa reestruturação, a rede chega a um ponto crucial percebido em dois dos
casos analisados. No primeiro, ela seguiu para a profissionalização, reduzindo sua natureza horizontal,
em que todos são autônomos e isoladamente pensam suas atividades individuais e por elas respondem,
chegando a uma rede mais vertical. No outro, a rede, além de responder pela gestão de suas questões,
também assumiu as questões dos processos individuais de cada um de seus integrantes, por meio de
licenciamento de marca, padronização de processos, gestão do marketing e comunicação,
determinação de um mix de produtos, elaboração de um rol de fornecedores. Ao longo do tempo e
diretamente em relação aos eventos de mudança e ao desenvolvimento das redes, estão as equipes ou
grupos de trabalho que proporcionam a gestão de benefícios ou expectativas dos envolvidos em redes
interorganizacionais. Devido à autonomia individual que caracteriza esta perspectiva, tornou-se
possível integrar os quatro motores de mudança e proporcionar uma visão de como as redes
interorganizacionais podem gerenciar tanto os relacionamentos estabelecidos e desenvolvidos nas
redes com a teoria dialética como os diferentes interesses com objetivos comuns, através das teorias
teleológica e evolucionária. Para entender como gerir as redes interorganizacionais, ao longo do
tempo, é preciso entender como ocorre seu processo de desenvolvimento e como as diferentes escolas
e os motores de mudança interferem, ao longo do tempo, nas mudanças e na evolução da rede. Estudos
em gestão de redes poderão ser desenvolvidos, no futuro, embasados nas implicações propostas nesta
tese.