Tolerância de espécies florestais arbóreas e fungos ectomicorrízicos ao cobre
Resumo
A contaminação do solo por cobre tem contribuído negativamente para o estabelecimento de plantas em áreas de mineração e áreas vinícolas do sul do Brasil. Espécies florestais micorrizadas podem ser uma alternativa para viabilizar o desenvolvimento de plantas em áreas contaminadas por metais. O trabalho foi desenvolvido no Departamento de Solos, no Jardim Botânico da Universidade Federal de Santa Maria; na FEPAGRO FLORESTA, Santa Maria e nas Minas do Camaquã, Caçapava do Sul, RS. A primeira etapa objetivou avaliar a ocorrência de associação micorrízica nas espécies florestais Luehea divricata Mart. et Zucc. (açoita-cavalo), Parapiptadenia rigida (Benth) Brenan (angico-vermelho), Peltophorum dubium (Sprengel) Tauber. (canafístula), Cedrela fissilis Vell. (cedro), Eugenia involucrata Dc. (cerejeira), Fícus puschnathiana (Miq.) Miq. (figueira-do-mato), Apuleia Ieiocarpa (J. Vogel) J.F. Macbr. (grápia), Inga marginata Willd. (ingá-feijão), Tabebuia Alba (Cham.) Sandwith (ipê-ouro), Tabebuia heptaphylla (Vell.) Toledo (ipê-roxo), Enterolobium contortisiliquum (Vell.) Morong. (timbaúva), Tipuana tipu (Benth.) O. Kuntze (tipuana) e Phytolacca dioica L. (umbu). As coletas de raízes e de solo foram realizadas no Jardim Botânico da Universidade Federal de Santa Maria e em mata nativa no distrito municipal de Boca do Monte, Santa Maria, RS. Nenhuma das espécies estudadas apresentaram associação com fungos ectomicorrízicos em ambiente natural. Raízes de açoita-cavalo, angico-vermelho, canafístula, cedro, figueira, ingá-feijão, ipê-ouro, ipê roxo, timbaúva, tipuana e umbu apresentam micorrizas arbusculares. Um segundo experimento foi desenvolvido para selecionar fungos ectomicorrízicos tolerante a cobre em meio de cultura líquido e sólido. Os fungos testados no meio de cultura sólido foram: Pisolithus microcarpus UFSC-Pt116, Suillus sp. UFSM RA2.8, Suillus sp. UFSM RA118, Scleroderma sp. UFSM SC3.6 e Scleroderma sp. UFSC-Sc124. No meio de cultura líquido foram testados os fungos: Pisolithus microcarpus UFSC-Pt116, Pisolithus tinctorius UFSC-Pt24, Scleroderma sp. UFSC Sc124, o fungo UFSM MC e o UFSM RA2.8. O fungo UFSC-Pt116 apresentou tolerância ao cobre e produziu maior quantidade de massa seca do micélio fúngico. Posteriormente, caracterizou-se a formação de ectomicorrizas em plântulas de angicovermelho, canafístula, grápia e timbaúva cultivadas in vitro, inoculadas com o fungo UFSCPt116. Plântulas de angico-vermelho, canafístula e timbaúva formam associação com fungo ectomicorrízico UFSC-Pt116. Estudou-se a região do espaço interno transcrito e analisaramse as diferenças no polimorfismo da seqüência desta região no isolado UFSC-Pt116 com as seqüências dos isolados de Pisolithus, Scleroderma, Rhizopogon e Suillus do GenBank. Confirmou-se a identificação morfológica do isolado como pertencente ao gênero Pisolithus. Contudo, com os resultados moleculares não foi possível confirmar a espécie do fungo. A segunda etapa objetivou avaliar o comportamento de angico-vermelho, canafístula, cedro e timbaúva tolerantes ao cobre. Mudas de cedro acumulam cobre na parte aérea e radicular. Mudas de timbaúva acumulam cobre na raiz da planta, não o translocam para a parte aérea. O angico-vermelho pode ser considerado uma planta exclusora de cobre. Canafístula, angicovermelho e timbaúva apresentaram maior tolerância a solo contaminado por cobre. A terceira etapa objetivou avaliar o comportamento de mudas de canafístula inoculadas com fungo ectomicorrízico em solo com excesso de cobre. O fungo ectomicorrízico utilizado como inoculante foi o isolado UFSC-Pt116. O incremento das doses de cobre reduziu o comprimento radicular, área superficial específica radicular, altura e diâmetro das plantas de canafístula. Mudas de canafístula inoculadas com fungo ectomicorrízico apresentaram menor teor de cobre em seu tecido e reduziram a absorção de cobre em dose mais elevada. Concluiuse que os isolados UFSC-Pt116, UFSC-Pt24 e UFSC-Sc124 foram eficientes in vitro na produção de micélio com elevada quantidade de cobre. O isolado UFSC-Pt116 não respondeu suficientemente para favorecer o desenvolvimento de canafístula em solo com excesso de cobre. Entretanto, este isolado reduziu a absorção de cobre pela planta.