Efeito da sazonalidade e do nível tecnológico de unidades produtoras na qualidade e potencialidade nutracêutica do leite bovino
Resumo
Foi avaliada a influência de níveis tecnológicos de sistemas de produção e estações do ano na qualidade microbiológica (contagem de células somáticas e contagem bacteriana total) e química do leite (gordura, proteína, potencialidade nutracêutica em relação ao perfil de ácidos graxos e agrotóxicos), além de avaliar a eficiência dos tratamentos térmicos industriais (pasteurização e ultrapasteurização) na degradação ou eliminação dos agroquímicos presentes no leite cru refrigerado. Através de técnicas estatísticas multivariadas, reduziu-se a dimensionalidade de 1.541 unidades produtoras de leite (UPL) referentes a 15 municípios do Rio Grande do Sul, Brasil, a 15 grupos homogêneos, sendo avaliadas três UPL por quadrante do plano cartesiano, nas distintas estações climáticas, as quais foram caracterizadas em quatro níveis de especialização: altamente especializado, especializado, semiespecializado e não especializado. Posteriormente foram coletadas amostras de leite de cada propriedade, para análise da qualidade microbiológica e química do leite, incluindo o perfil de ácidos graxos e índices de avaliação da fração lipídica, destacando-se o índice proposto pelo estudo, denominado índice nutracêutico (IN); e ainda, à inocuidade do leite em relação a 93 resíduos de agrotóxicos e a eficácia de degradação ou eliminação destes praguicidas frente aos tratamentos térmicos industriais. Através dos resultados deste estudo, observa-se que os sistemas de produção e as estações do ano interferem de forma conjunta no perfil de ácidos graxos, e de forma isolada na qualidade química e microbiológica do leite. As maiores contagens de células somáticas e os menores conteúdos de proteína foram observados no verão, e o grau de especialização das unidades produtivas esteve indiretamente relacionado com a contagem bacteriana total no leite. No inverno, sistemas não especializados produziram leite com melhor IN, com os maiores teores de ácidos graxos poli-insaturados, ácido rumênico (CLA, 18:2n7 - c9, t11) e ácido t10,c12-octadecadienoico (CLA, 18:2n6 t10, c12). Em adição, com a elevação dos níveis de especialização das UPL e principalmente na primavera, verão e outono aumentaram-se os valores de resíduos de agroquímicos no leite. No entanto, os tratamentos térmicos industriais mostraram-se eficientes para degradar ou eliminar os agrotóxicos presentes no leite cru refrigerado, evidenciando-se a importância destes distintos binômios de tempo e temperatura para a inocuidade do leite consumido.