Sexualidade e educação sexual: prática docente em uma escola pública de Juazeiro do Norte - CE
Resumo
Estudo do tipo etnográfico, adaptado à educação, cujo objetivo geral foi investigar
ações e relações dos/as professores/as e seu trabalho cotidiano na educação sexual
de adolescentes do Ensino Fundamental e Médio que configuram a práxis
pedagógica da experiência escolar e os objetivos específicos foram: identificar a
abordagem de professores/as acerca da educação sexual no espaço escolar
segundo a percepção dos/as adolescentes; caracterizar os/as adolescentes
escolares do ponto de vista social e sexual; conhecer a percepção sobre
sexualidade e educação sexual dos/as professores/as; descrever o trabalho de
educação sexual dos/as professores/as de uma escola pública de Juazeiro do Norte-
CE; e, apreender os valores e as atitudes dos/as professores/as em relação à
sexualidade de adolescentes no espaço escolar. O trabalho de campo foi
desenvolvido de setembro de 2009 a fevereiro de 2010 por meio da aplicação de um
questionário respondido por 67 estudantes, seguido de observação e entrevista
semiestruturada com sete professores/as que tiveram aulas observadas. Os dados
dos questionários foram organizados através do Método do Discurso do Sujeito
Coletivo, a percepção docente de sexualidade e educação sexual por categorização
temática. A análise aconteceu de forma reflexiva e interpretativa. Os/As estudantes
referiram que os/as professores/as, geralmente, não abordavam as questões em
sala de aula e quando esta esteve presente localizava-se, predominantemente, nas
ciências biológicas, pautadas na prerrogativa da prevenção das infecções
sexualmente transmissíveis. O conceito de sexualidade foi dividido em duas
categorias: sexo e opção sexual. Além de aspectos corporais, houve elementos
espirituais e de expressão do amor entre os seres, embora estes fossem
secundários aos atributos genitais e do intercurso sexual, circundados pelo caráter
natural. A educação sexual foi pautada sobre três eixos: relação sexual, fisiologia
corporal e comportamento social. Para os/as docentes, as aulas de ciências se
figuraram como espaço mais adequado para se tratar do assunto. Constatou-se que,
mesmo sendo o assunto suscitado por parte dos/as estudantes, os/as
professores/as se omitiram em realizar qualquer intervenção. Observou-se a
presença de valores morais e pessoais na condução das práticas educativas,
atitudes de silenciamento em relação ao preconceito a homossexuais e perda da
virgindade, assim como manutenção das desigualdades de gênero. Conclui-se que a
abordagem da sexualidade no espaço escolar não ocorre de forma transversal. A
prática pedagógica configurou-se como sexista em ambiente generificado que usa o
silenciamento como forma de disciplinamento e controle da sexualidade assim como
para a manutenção da ordem hegemônica, produzindo e reproduzindo os valores e as atitudes do modelo de sociedade patriarcal e machista. Neste sentido, o trabalho
docente necessita de constante renovação, sendo preciso superar o modelo
biomédico/científico na sexualidade, considerando dimensões histórica, social,
cultural e política, cuja transversalidade das ações deve ser meta a ser alcançada
nos diversos campos do saber.