Subsídios para o planejamento da produção de Pinus elliottii Engelm. na serra do sudeste, Rio Grande do Sul
Abstract
No Rio Grande do Sul, a Serra do Sudeste vem sendo alvo de grandes investimentos florestais devido aos programas governamentais de desenvolvimento regional para o setor nos três níveis da administração. Uma das espécies com maior
área de plantio na região é o Pinus elliottii Engelm. Dois grandes municípios vizinhos com áreas típicas da fisiografia da Serra do Sudeste têm despertado especial atenção para seu desenvolvimento florestal: Cachoeira do Sul e Encruzilhada do
Sul. A produção florestal já é uma realidade para ambos e se mostra bastante promissora. A localização estratégica, o clima e solos favoráveis impulsionaram o desenvolvimento florestal na região onde empresas de pequeno a grande porte
possuem plantações. Este estudo teve como objetivo geral analisar a produção de madeira de Pinus elliottii nos municípios de Cachoeira do Sul e Encruzilhada do Sul, no Rio Grande do Sul, e como objetivos específicos: a) levantar dados sobre os
demais aspectos ambientais e socioeconômicos envolvidos na atividade, de forma a fornecer subsídios para o planejamento do desenvolvimento florestal na região com vistas ao manejo florestal sustentável; b) determinar os custos de produção e rendas possíveis; c) realizar a análise econômica e financeira da produção de madeira de Pinus elliottii nas condições regionais; d) caracterizar o crescimento e produção de
Pinus elliottii por sortimentos. Em 2005 e 2006, respectivamente, foram medidas 481 e 542 parcelas amostrais em povoamentos de Pinus elliottii na Serra do Sudeste,
RS, e 6 árvores foram abatidas em diferentes sítios e submetidas à análise de tronco. O Índice de Sítio (IS) foi definido como a altura dominante na idade de 22
anos, sendo que as parcelas amostrais apresentaram uma variação de IS entre 18 e 38 metros. Foi observada inclinação ascendente da curva de IS das florestas mais velhas para as mais jovens, que ainda se mantém, fazendo prever que ainda é
possível melhorar a produtividade dos povoamentos. Os custos de implantação dos povoamentos foram estimados em R$ 2.292,09/ha e os de manutenção variaram entre R$ 134,84/ha e R$ 363,98/ha anuais, estando na faixa de custos de outros estudos encontrados na literatura. As produções totais por hectare no regime de manejo atual, com rotação de 26 anos e 4 desbastes, ficaram entre 528 m³/ha no IS
22 e 1.140 m³/ha no IS 34, mas acredita-se que valores médios mais prováveis de se obter nas condições atuais na Serra do Sudeste estejam entre as produtividades dos IS 26 e 28, que ficam entre 25,8 e 29,8 m³.ha-1.ano-1. A partir do Índice de Sítio 28, com Valor Presente Líquido (VPL) de R$ 1.147,17/ha, a produção de madeira de Pinus passa a ser interessante, sendo que no IS 26 com uma Taxa Interna de
Retorno (TIR) de 6,86% já seria possível remunerar os juros do PROPFLORA de 6,75%. O IS 28 serviu como base de comparação com um Valor Anual Equivalente (VAE) de R$ 94,78/ha, sendo o primeiro que apresenta alguma atratividade,
semelhante ao valor mínimo do arrendamento de terras para pecuária na região, próximo ao valor de 40 kg de boi vivo por hectare. A análise de diferentes regimes de manejo para o IS 28 mostrou que o maior VPL é obtido com rotação de 26 anos e 4 desbastes em ciclo de 4 anos, iniciando-se os cortes aos 10 anos. Foi elaborado um cenário de desenvolvimento florestal prevendo a ampliação do parque de serrarias e a instalação de uma indústria de placas de fibras de grande porte que venham a se complementar no consumo dos sortimentos de madeira produzidos. Foram identificados 92 mil hectares como passíveis de serem cultivados com Pinus
na área estudada, que poderiam injetar cerca de R$ 92,8 milhões da silvicultura ao Valor Adicionado Bruto (VAB) na região, sendo que a industrialização da madeira poderia acrescentar outros R$ 370 milhões anuais, gerando mais de 15 mil empregos. O Pinus elliottii tem apresentado bons resultados na região, tem bom incremento, sem motivo para preocupação quanto a invasão de áreas naturais,
sendo positivo na recuperação dos solos, geralmente esgotados, melhorando e regulando o regime hídrico, trazendo mais renda e empregos do que o uso atual com a pecuária, diversificando a matriz produtiva rural, reduzindo os riscos do
produtor e gerando a perspectiva de instalação de um grande parque industrial de base florestal, que deverá impulsionar o desenvolvimento não só no aspecto econômico, mas principalmente na área social, gerando mais oportunidades de
desenvolvimento cultural, influenciando a mudança nos indicadores de saúde e educação e melhorando o bem-estar da população. A análise econômica foi realizada com bastante prudência, usando-se níveis de produtividade moderados,
custos dentro de padrões que podem ser considerados entre médios e altos e preços de venda comedidos para o mercado de madeira atual. Mesmo com as restrições impostas à análise, os resultados para a silvicultura são promissores,
principalmente se for considerado que há uma forte tendência de aumento dos preços praticados pelo mercado regional e que há grande probabilidade de instalação de laminadoras de madeira para absorver as toras produzidas de maior
dimensão. Dentro dos critérios de análise adotados, demonstrou-se que as taxas de juros oficiais e os prazos de pagamentos praticados no Brasil são incompatíveis com
a silvicultura de longa rotação, que tem como objetivo a obtenção de madeira de grandes dimensões e maior valor agregado, sendo necessário criar políticas governamentais adequadas e específicas para esse tipo de empreendimento.