Métodos e espécies potenciais para a restauração de áreas degradadas no Parque Estadual Quarta Colônia, RS
Date
2012-03-20Metadata
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Geralmente, obras de interesse público, como a construção de usinas hidrelétricas, causam alterações nos ecossistemas. A reparação dos danos deve ser realizada pelo empreendedor, através da restauração ecológica do ecossistema degradado. Assim, o presente estudo teve por objetivo avaliar a evolução de áreas em processo de restauração em relação a um remanescente florestal mais preservado, além de avaliar métodos e espécies potenciais, capazes de manter a funcionalidade dos ecossistemas. O Parque Estadual Quarta Colônia é uma unidade de proteção integral de 1847 hectares, localizada no município de Agudo e Ibarama, RS, e criada em 2005 como medida compensatória à obra da usina hidrelétrica de Dona Francisca. Esta tese foi desenvolvida em capítulos, sendo que, inicialmente, são apresentadas definições básicas para o entendimento do texto e, posteriormente, são apresentados três capítulos na forma de artigo. O capítulo I apresenta um estudo de remanescente de floresta secundária (área de referência), localizada a aproximadamente 560 m de uma das áreas recuperadas e a 620 m de outra, é composta por floresta secundária em estádio de sucessão médio a avançado, e correlações com variáveis ambientais. A vegetação da área de referência foi inventariada utilizando-se 12 parcelas de 10 x 20 m (200 m²), em faixas distantes 100 m uma da outra e 20 m distantes entre parcelas distribuidas sistematicamente em gradiente de topografia, através da medição da circunferência à altura do peito (CAP) de todos os indivíduos arbóreos e arbustivos com CAP≥15 cm. A regeneração foi calculada em subparcelas circulares com raio de 1,78 m (10 m²) no centro das parcelas, medindo-se os indivíduos com altura≥30 cm e CAP<15 cm. A análise dos dados foi realizada por meio das características estruturais da vegetação e florística, verificando-se a existência de agrupamentos florestais. Além disso, realizou-se análise de correspondência canônica entre a vegetação e as variáveis ambientais, sendo que se observou a formação de dois grupos florísticos, localizados de acordo com os trechos de uso do solo e as características químicas. Os resultados confirmaram o estágio médio a avançado de sucessão, uma vez que foram encontrados trechos com espécies de grupos sucessionais iniciais e trechos com predominância de espécies tardias e de sub-bosque. Dessa forma, a indicação de espécies para restauração de áreas desprovidas de vegetação depende de estudos de áreas de referência em estágios inicias de sucessão. No segundo capítulo, são avaliadas duas áreas em processo de restauração de sete anos, denominando-se A1, área cujo modelo de restauração foi baseado no processo natural de sucessão, e A2, que, apesar de ter sido baseada no mesmo modelo, foi implantada com espaçamento mais amplo. Para verificar o desenvolvimento do processo de restauração das áreas, foram avaliados atributos da composição florística e da estrutura da vegetação, assim como variáveis ambientais envolvidas em processos ecológicos. As áreas A1
e A2 foram amostradas através de 18 parcelas de 10 x 20 m (200 m²) cada uma, de modo que se observou o diâmetro, a altura e a cobertura de copa dos indivíduos. A regeneração natural foi estudada em subparcelas de 2 x 2 m (4 m²), através da obtenção do diâmetro do coleto e da altura (0,10 a 1,0 m). As variáveis ambientais representadas pela atividade enzimática no solo foram observadas por meio da coleta de 10 amostras de solo, nas camadas de 0 a 5 cm e de 5 a 20 cm, em cada área. Os resultados evidenciaram que, além da composição florística e estrutura da vegetação, a atividade enzimática é um indicativo potencial da qualidade do ecossistema, sendo que as duas áreas restauradas, embora com valores inferiores à floresta natural utilizada como área de referência, retomaram o processo de sucessão. O terceiro capítulo busca obter informações para implantação de um modelo de restauração de baixo custo para a unidade de conservação e seu entorno. Para tanto, foi avaliado um modelo de plantio composto por espécies florestais nativas, funcionalmente divididas em grupo de preenchimento (Enterolobium contortisiliquum, Schinus terebinthifolius, Parapiptadenia rigida, Inga vera, Luehea divaricata, Psidium cattleyanum) e grupo de diversidade (Eugenia uniflora, Allophylus edulis, Cedrela fissilis, Prunus myrtifolia, Jacaranda micrantha, Cupania vernalis, Cabralea canjerana). Além disso, verificou-se a influência do preparo da área por subsolagem e semeadura com a leguminosa Vicia sativa. O experimento foi implantado em delineamento de blocos casualizados, em esquema trifatorial 2 x 2 x 4 (método de preparo da área x Vicia sativa x tempo). Os tratamentos consistiram em: T1 - cova + plantio de espécies arbóreas (grupo de preenchimento-GP e de diversidade-GD); T2 - cova + plantio de espécies arbóreas (GP e GD) + Vicia sativa; T3 - subsolagem + plantio de espécies arbóreas (GP e GD); e T4 -subsolagem + plantio de espécies arbóreas (GP e GD) + Vicia sativa. As variáveis observadas (mortalidade, altura, diâmetro do coleto e diâmetro da copa) foram submetidas à análise de variância e determinação da significância dos efeitos principais dos fatores e das interações. A comparação das espécies foi analisada pelo Teste de Kruskal-Wallis e a comparação das médias pelo Teste de Dunn. Constatou-se que o uso de subsolagem foi o melhor método, indiferente ao uso de Vicia sativa devido à sua competitividade com as mudas do grupo de diversidade. Enterolobium contortisiliquum, Schinus terebinthifolius e Inga vera são indicadas para compor o grupo de preenchimento, enquanto que as espécies do grupo de diversidade, na circunstância do experimento, são indicadas para serem introduzidas após a cobertura parcial do dossel. Considerando os resultados deste estudo, foi possível concluir que as estratégias de restauração ecológica devem garantir que espécies pioneiras, secundárias e clímax estejam presentes em abundância e distribuição adequadas, e que a implantação do grupo de diversidade deverá ocorrer com o dossel formado. As áreas A1 e A2 estão em contínuo processo de restauração, embora seja necessário seu manejo para que tenham condições de manter uma trajetória sucessional próxima ao ecossitema original.