A construção social do mercado de acácia-negra no estado do Rio Grande do Sul
Resumo
Por muito tempo os mercados foram entendidos como uma entidade abstrata, regulada pela
oferta e pela demanda dos produtos, e que desconsiderava a importância da interação
social na sua formação. Assim, este trabalho teve como objetivo geral compreender os
fatores que concorreram e que condicionaram o formato da estrutura do mercado da acácianegra
(Acacia mearnsii De Wild) no Rio Grande do Sul, bem como entender os distintos
papéis dos agentes e das instituições na construção social deste mercado. Especificamente
pretendeu-se: identificar os agentes que compõem o mercado de acácia-negra e seus
papéis; mapear a rede de relações dos agentes existente no mercado; compreender o efeito
dos aspectos sociais, técnicos, econômicos e políticos no desenvolvimento do mercado da
acácia-negra no Rio Grande do Sul (RS). Para isto selecionou-se a Nova Sociologia
Econômica (NSE) como o arcabouço teórico de base. O principal autor visitado foi Pierre
Bourdieu, em virtude da sua teoria dos campos e dos capitais, e por entender que a ação
dos agentes é condicionada pela estrutura existente e a estrutura é condicionada pelo
habitus dos agentes. Outros autores como Fligstein, Swedberg, Steiner e Abramovay
também tiverem participação destacada no estudo devido às suas contribuições para a área.
A metodologia utilizada para a realização deste trabalho foi o estudo de caso, sendo que o
mercado da acácia-negra foi considerado o caso a ser analisado. Para a obtenção dos
dados, foram realizadas entrevistas semiestruturadas, em dez municípios do estado do RS,
junto às principais empresas do setor, junto a produtores florestais que atuam de distintas
formas e com estratégias diferentes, e juntamente à empresa de Assistência Técnica e
Extensão Rural (ATER). Como fonte secundária, foram utilizados dados do IBGE, da
Emater/Ascar e de diversos órgãos ligados ao setor. Desta forma, concluiu-se que o
mercado da acácia-negra constitui uma construção social composta por diversos agentes,
sendo identificados onze tipos, cada um com características e estratégias distintas.
Percebeu-se que este mercado teve seu início impulsionado pela exploração da casca
destinada à produção de tanino. Em um segundo momento, surge a produção de carvão
vegetal, principal forma de utilizar a madeira até os anos 1990 e, a partir de 1995, iniciou-se
a exploração da madeira com a finalidade de produzir cavaco para exportação, modificando
consideravelmente o campo. Também notou-se que este mercado foi condicionado por
vários fatores, como a concentração dos principais capitais junto às empresas; a influência
do ambiente institucional formal e informal sobre a ação dos agentes, materializado pelas
legislações ambientais e trabalhistas e pela cultura; a falta de mão de obra, indiferentemente
do porte do produtor; o problema da sucessão dos silvicultores familiares; a falta de
cooperação entre os pequenos produtores para a comercialização de seus produtos; a
habilidade social das empresas e a sua influência sobre os demais agentes; o habitus do
colono silvicultor e produtor de carvão, entre outros.