A contribuição dos atores na trajetória de formalização das agroindústrias familiares rurais em Jaguari-RS e Chapecó-SC
Resumo
A formalização das Agroindústrias Familiares Rurais (AFRs) é compreendida aqui como um processo complexo‟, pois se trata de adequar a padrões de mercado uma atividade que outrora servira como valor de uso doméstico e cujas características artesanais passam a ser valorizadas pelos consumidores como produtos diferenciados dos produtos industriais. A literatura aponta que a viabilização dessa possibilidade mercadológica envolve a organização dos agricultores, com a ação de diferentes atores, no sentido de promover a cooperação entre os envolvidos. Fica caracterizado, com isso, um fenômeno econômico que ocorre inserido‟ em um contexto de relações sociais internas a família, mas também de relações que se constituem com atores externos às experiências, conferindo especificidade socioespacial à problemática. Essas são variáveis que compõem o ambiente institucional em que as AFRs estão imersas e configuram o problema do estudo que se coloca de modo a compreender como as Agroindústrias Familiares Rurais são formalizadas, caracterizando os atores e as relações que se estabelecem para superar as adversidades que o ambiente institucional exerce sobre essas experiências. Diante disso, este estudo se propõe a analisar a dinâmica inerente à formalização das Agroindústrias Familiares Rurais, buscando compreender a contribuição dos atores para superar adversidades relacionadas ao ambiente institucional. A orientação teórica da pesquisa está situada, predominantemente, na tradição da Nova Sociologia Econômica. Foi utilizado o método de estudo comparativo de casos‟, cujas unidades de análise localizam-se nos municípios de Jaguari-RS e Chapecó-SC. A coleta de dados foi conduzida a partir de fontes secundárias (bibliografias e bases de dados), mas principalmente de fontes primárias (entrevistas, documentos e observação livre) com agricultores(as) e os atores com os quais estes se relacionam em função dos projetos de AFRs, empregando instrumentos específicos (roteiros semi-estruturados) para cada categoria. Utilizou-se de abordagem qualitativa, apoiada pontualmente por métodos quantitativos (distribuição de frequências), onde a organização das informações coletadas ocorreu de modo a permitir a análise de conteúdo, subsidiando as interpretações à luz do marco teórico proposto. Os resultados colocam em xeque a eficácia das formas pelas quais a agricultura familiar se organiza e é representada, assim como dos próprios serviços de apoio, na superação de barreiras que o ambiente institucional (sobretudo no que diz respeito às exigências do quadro legal vigente) impõe aos empreendimentos da agricultura familiar. O estudo sugere que avanços em potenciais não ocorram pela ação individual dos agricultores, tampouco pela ação determinista do Estado, mas como uma construção protagonizada pelas organizações de agricultores, apoiadas de maneira decisiva por suas formas de representação, pelas organizações dos movimentos sociais e pelo poder público.