Óleos essenciais como anestésicos para peixes: aspectos bioquímicos e moleculares
Abstract
Os óleos essenciais (OEs) extraídos das plantas Hesperozygis ringens e Lippia alba possuem
propriedades anestésica e sedativa, constituindo uma alternativa aos anestésicos
tradicionalmente usados em aquicultura para facilitar o manejo e/ou reduzir o estresse. Neste
sentido, o estudo teve por objetivo investigar os efeitos desses OEs sobre a fisiologia de peixes,
através de indicadores fisiológicos, bioquímicos e endócrinos. No artigo 1 determinou-se (a) a
atividade anestésica dos OEs de H. ringens (OEHR) e L. alba (OELA) e (b) seus efeitos em
jundiá (Rhamdia quelen) depois da indução e recuperação da anestesia. Os peixes foram
submetidos a um dos seguintes tratamentos para cada OE: grupo basal, controle ou anestesiado
(150, 300 ou 450 μL L-1 OE), avaliando-se a taxa ventilatória (TV) durante o período de indução
e, posteriormente, transferidos para aquários sem anestésicos para recuperação da anestesia.
Nos tempos 0, 15, 30, 60 e 240 min de recuperação foram realizadas amostragens de plasma e
brânquias para medir indicadores metabólicos e enzimas ionorregulatórias, respectivamente. No
artigo 2, os efeitos da exposição prolongada de jundiás a baixas concentrações do OEHR foram
estudados. Após 6 h de exposição a 0 (controle), 30 ou 50 μL L-1 OEHR adicionado à água,
analisou-se: TV, indicadores metabólicos e de estresse em plasma, atividade enzimática em
fígado e expressão de hormônios hipofisários (hormônio do crescimento - GH, prolactina - PRL e
somatolactina - SL). No manuscrito (a) avaliou-se a eficácia anestésica do OELA em dourada
(Sparus aurata) e (b) investigaram-se os efeitos de 35 μL L-1 de OELA e 2-fenoxietanol (2-PHE)
sobre a resposta ao estresse em douradas submetidos à perseguição. Após 4 h de exposição,
foram amostrados plasma (para determinação dos níveis de cortisol, metabólitos e
osmolalidade), cérebro e hipófise (para avaliar a expressão de indicadores endócrinos). No artigo
1, a anestesia com os OEs provocou alterações em alguns parâmetros medidos em jundiás, mas
não impediu a restauração da maioria dos indicadores avaliados após 240 min de recuperação.
No artigo 2, 50 μL L-1 do OEHR provocou a elevação dos níveis de glicose, lactato, proteína e
osmolalidade, bem como aumento na atividade de enzimas metabólicas e redução na expressão
do GH e SL. No manuscrito, douradas expostos ao OELA, estressados ou não, exibiram maiores
níveis de cortisol, glicose, lactato e osmolalidade. A exposição ao OELA somado ao estresse
reduziu os níveis de expressão de CRH-BP (hormônio liberador de corticotrofina ligado à
proteína). A expressão de PRL foi reduzida no grupo controle estressado e após a exposição ao
OELA e 2-PHE em peixes não estressados. Maiores expressões de pro-opiomelanocortina
(POMC) a e b foram observadas em peixes estressados e expostos ao OELA e 2-PHE,
respectivamente. Conclui-se que: (1) o OELA é mais eficiente para jundiás que o OEHR em
concentrações para anestesia; (2) para sedar os peixes, recomenda-se 30 μL L-1 do OEHR (ou
menos); (3) o OELA foi eficaz como anestésico para dourada entre 100-300 μL L-1, mas para 4 h
de exposição o 2-PHE foi mais eficiente em prevenir a resposta ao estresse.