Linguagem e representação nos autos de um processo penal: como operadores do direito representam atores sociais em um sistema de gêneros
Resumo
Este trabalho busca responder à seguinte questão: como operadores do direito
fazem a representação de atores sociais nos autos de um processo penal de um
crime contra a vida no contexto brasileiro? O objetivo central consiste em analisar as
formas de representação dos atores sociais, a partir da descrição do sistema de
transitividade, em textos produzidos pelos operadores nos autos de um processo
penal. Para isso, fez-se necessário o levantamento de dados contextuais sobre a
prática jurídica penal. Por meio da consulta a uma fonte documental, constituída de
leis e textos informativos da área de Direito Penal, identificamos mecanismos de
institucionalização e delineamos o contexto de cultura. Delineamos também o
contexto de situação em que se inserem os autos de um processo penal em
particular (PP), selecionado junto à 1ª Vara Criminal do Fórum de Santa Maria, RS,
Brasil. Por meio do método qualitativo, identificamos os atores sociais que
preenchem os papéis da transitividade no nível da oração, com base na Gramática
Sistêmico-Funcional desenvolvida por Halliday & Matthiessen (1999, 2004), e
analisamos as formas de representação, com base nas categorias sócio-semânticas
propostas por van Leeuwen (1997). A análise das escolhas léxico-gramaticais
associadas aos dados contextuais mostrou que os autos do processo penal
constituem um complexo sistema de gêneros, em que os operadores do direito
administram , em vista de suas atividades e dos seus propósitos, as representações
da realidade construídas pela ré e pelas testemunhas. Dessa forma, os operadores
do direito usam a linguagem para elaborar versões da realidade, uma das quais é
escolhida pelos jurados.