A surdez que se faz ouvir: sujeito, língua e sentido
Resumo
O objetivo deste estudo é o de compreender discursivamente como sentidos sobre surdez se transformam em atitudes junto a sujeitos surdos, produzindo efeitos em seus processos de identificação e constituição como sujeitos no simbólico. Como
recurso metodológico, organizamos o recorte discursivo a partir de um corpus bruto formado por material escrito obtido por intermédio de entrevistas de explicitação, sobre o tema da surdez, realizadas com quatro mães ouvintes, a partir de sua vivência com filhos surdos. O objeto discursivo foi organizado em quatro Blocos Discursivos Temáticos (BDT). Cada um dos blocos está formado por seqüências
discursivas do discurso materno sobre a surdez, o surdo, o filho, a função materna, a língua e a linguagem. O procedimento analítico se processou com base no que
propõe a Análise de Discurso de orientação pecheutiana. As análises proporcionaram a compreensão de que os sentidos do discurso de mães ouvintes sobre o tema estudado remetem ao efeito de ambivalência no qual deslizam discursivamente, mas retornam aos sentidos de deficiência já cristalizados. Ao
tentar trazer uma cadeia de significação nova, o discurso materno, como efeito, reforça cadeias anteriores, simultaneamente, da Formação Discursiva Clínica e da
Formação Discursiva Ouvinte. Desta maneira, o discurso materno sobre o filho surdo promove socialmente o fortalecimento da circulação dos sentidos da Formação Discursiva Clínica que, por sua vez, recrudesce sentidos da Formação Discursiva Ouvinte. Entendemos que os sentidos da Formação Discursiva Ouvinte remetem ao efeito de transparência levando em conta o sentido já-aí ,
caracterizando o retorno ao mesmo, enquanto o efeito de ambivalência instala a polissemia, o diferente, promovendo um enlaçamento entre discurso, língua, fazendo circular ambos os sentidos no imaginário materno, não um ou outro. Este
funcionamento discursivo explicita haver na significação materna uma coexistência de sentidos opostos e simultâneos atuando nas escolhas que a família faz em busca de inscrever o filho numa ordem socialmente aceita, via simbólico. Entre
estas escolhas situa-se a oralidade.