Análise de discurso no Brasil: aspectos da invenção e da transmissão no fazer disciplinar
Resumo
Este trabalho tem como objetivo geral compor um conhecimento sobre a Análise de Discurso (AD) de orientação francesa pela produção teórica de Eni P. Orlandi e, como objetivo específico, elaborar uma possibilidade de leitura das
noções de paráfrase e de polissemia, a partir de A linguagem e seu funcionamento: as formas do discurso (1983) e estabelecendo relações com Interpretação: autoria, leitura e efeitos do trabalho simbólico (1996) e Análise de Discurso: princípios e procedimentos (1999), com o propósito de refletir
sobre o desenvolvimento da AD no Brasil, ao identificar princípios e procedimentos responsáveis por sua consistência disciplinar. Parte-se do pressuposto de que a metalinguagem enquanto representação de um domínio do saber pode ser
relacionada à epistemologia e ao pensamento elaborado sobre a ciência de uma maneira geral. Mas a representação operada por ela diferencia-se da epistemologia positiva da ciência que admite a transparência da modalidade epistêmica, a objetividade, a universalidade e a intangibilidade do conhecimento. A metalinguagem historicamente construída suporta a natureza paradoxal do conhecimento e dissimula a coerência do conhecimento científico que não se
refere mais à verdade, mas a comunidades em torno das quais se organiza. A existência de comunidades do conhecimento indiciam, portanto, a exclusão, a demarcação de fronteiras dos saberes; e a inclusão, pelo reconhecimento dos pares que podem validar seus resultados. Justificam também a existência do disciplinar que funciona como uma possibilidade de legitimar a existência de uma tal comunidade. A trajetória realizada no presente estudo nos permite elaborar a tese de que as noções de paráfrase e de polissemia, constituem-se, a partir do ponto de vista disciplinar, em um procedimento de reapropriação/fundação que as desloca do conteudismo, associado às Ciências Sociais; e da significação associada à Lingüística saussureana; fazendo-as funcionar discursivamente. O movimento teórico que vai da noção de efeito metafórico à paráfrase e polissemia justifica-se se a ciência for pensada em termos de coerência aparente, não de
proposições verdadeiras; e justifica-se também se a ciência for pensada em sua historicidade, assim, essa operação localiza a paráfrase e a polissemia na tradição dos estudos da linguagem no caso específico do Brasil.