Aurora mexicana processos de resistência-revolta-revolução em lutas populares da América Latina: o exemplo do discurso zapatista
Resumo
A presente tese tem como escopo contribuir para a discussão teórica acerca da
emergência e dos modos de funcionamento de discursividades imbricadas a
ideologias dominadas ou antagônicas no continente latino americano. Da
perspectiva da Análise de Discurso, iniciada pelo círculo de intelectuais em torno de
Michel Pêcheux na França entre as décadas de 1960-1970, empreendeu-se uma
análise pontual do discurso do Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN),
movimento que se alçou em armas em janeiro de 1994 no sudeste mexicano.
Entretanto, são os comunicados, as cartas, as declarações, as imagens de rebeldes
mascarados, divulgadas pela mídia, que possibilitaram um amplo apoio civil nacional
e internacional e evitaram a derrocada da luta zapatista pelas forças de contrainsurgência.
O processo de resistência-revolta em curso nos últimos dezesseis anos
no estado de Chiapas permite o estudo dos modos de funcionamento de
discursividades antagônicas, dissimétricas em relação à ideologia dominante, neste
início de século XXI. A descrição e a interpretação se focaram em quatro tópicos que
caracterizam a heterodoxia do EZLN frente a outras discursividades da esquerda
hegemônica do século passado: a posição-sujeito zapatista em franca recusa da
individualização pelo Estado; a imagem midiatizada dos zapatistas enquanto
celebridades anônimas; o riso zapatista enquanto irrupção de humor no político; o
silenciar zapatista, enquanto prática de recusa em ter de dizer, com os efeitos de
sentidos e os efeitos políticos que acarretam. Com base nesta análise foi possível
retomar o conceito de espectro do irrealizado articulado ao processo de
reprodução/transformação histórico.