Sociedade da imagem: a (re)produção de sentidos da mídia do espetáculo
Resumo
Em nosso trabalho, buscamos compreender os modos de discursivizar da mídia, considerando as condições de produção das práticas midiáticas como parte de uma sociedade marcada pela profusão de imagens e pela (re)produção de sentidos. Ancoramos nossa fundamentação teórico-metodológica em uma base discursiva de leitura e análise que entende o discurso como efeito de sentido entre locutores (PÊCHEUX, [1975] 2009). Da Análise de Discurso mobilizamos conceitos como ideologia, memória e interdiscurso, enquanto norteadores do processo de construção metodológica e analítica dos objetos de mídia recortados para nosso corpus de estudo. Entendemos que é pela ideologia que se naturaliza o que é produzido pela história e que, através da simulação (e não da ocultação), é que são identificadas as transparências (ORLANDI, 2007). O corpus de nosso objeto de estudo é constituído de dezesseis publicações impressas de capa (revistas IstoÉ, SuperInteressante e VEJA), versadas em temáticas relativas à violência e à infância, por meio das quais tratamos de pensar os conceitos que constituem a história da sociedade ocidental, tais como saber-poder, vigilância, controle, modernidade, espaço urbano e espetáculo. Nossa observação da discursividade na mídia e sua relação de (re)produção de sentidos nos levou a refletir sobre um conceito que designamos ‗arranjo simbólico . Esse conceito teórico-metodológico e analítico corrobora com nossa hipótese de que, para se materializar e consolidar sua posição no eixo social, a mídia mobiliza diferentes materialidades textuais, entre as quais destacamos a imagem, em uma discursividade substanciada pela interdiscursividade, ou seja, afetada pelo simbólico, pelo que já faz sentido, pelo que já existe em um imaginário social pré-construído (PÊCHEUX, [1975] 2009) e socialmente legitimado. Levamos em consideração, portanto, as condições de produção das práticas cotidianas da mídia que se constituem em uma produção relacionada ao mercado e ao consumo. Nossos recortes analíticos foram elencados a partir do alinhavo dos conceitos de pré-construído (a memória interdiscursiva) e das redes parafrásticas (as retomadas ao mesmo sentido marcadas em uma regularidade estabilizada) a que nos propomos dar visibilidade, entendendo que a paráfrase constitui o retorno aos mesmos espaços do dizer (ORLANDI, 1999). Em nossas análises, trabalhamos com quatro recortes por meio dos quais analisamos o viés ideológico que aproxima discursivamente (por isso redes parafrásticas) versões sobre violência na prática de mídia impressa. Nossas análises nos apontam que o modo do discursivizar da mídia está sendo constantemente retroalimentado de/pelos relatos já ditos, o que corresponde a dizer que ele retoma, desloca, repete e reordena regiões de memória, promovendo a circulação de dizeres tidos como notórios e importantes para todos, úteis e dignos de serem relatados, além de passíveis de credibilidade. O discurso da mídia, em suas versões parafraseadas, é responsável pela circulação de sentidos que se tornam referentes, imaginariamente confiáveis da realidade social, contribuindo para a constituição social de imagens, valores e concepções de mundo. Memórias e sentidos do mundo (discursivo) do espetáculo, da sociedade da imagem, que aparecem como dados aos seus produtores, naturalizados e retomados sob a aparência de uma gramática ―inata‖ de luzes e sombras, cores e volumes.