Linguística e ensino: o discurso de entremeio na formação de professores de língua portuguesa
Resumo
O presente trabalho tem por objetivo analisar como e quais os saberes da ciência linguística funcionam na constituição de um curso de Letras voltado à formação de professores de língua portuguesa. Ancoramo-nos na perspectiva teórico-metodológica da Análise de Discurso de linha francesa (AD) em diálogo com a História das Ideias Linguísticas (HIL), de modo que nosso percurso de análise se faz a partir de um arquivo documental-institucional em que tomamos como corpus de análise o discurso sobre o curso de licenciatura plena em Letras da UNOCHAPECÓ-SC. Analisamos a constituição desse curso a partir dos quadros de formação docente, da organização disciplinar das matrizes curriculares e da formulação dos ementários das disciplinas curriculares de Língua Portuguesa, Leitura e Produção Textual, Linguística e Estudos Linguísticos, representativos de diferentes momentos do curso, e neles mobilizamos as categorias teóricas de efeitos de identificação, interdiscurso e intradiscurso em nosso gesto analítico. Por meio da análise dos materiais de arquivo, pontuamos que: a fundação do ensino superior no oeste catarinense é marcada pelo processo de interiorização do ensino superior, por meio das fundações de ensino, sendo que nessa constituição há ressonâncias e deslocamentos dos modelos de ensino superior que se constituíram na história da educação brasileira; o curso de Letras tem sua constituição marcada pela necessidade de atender à legislação educacional em vigor nos anos finais da década de 1980 e, também, às necessidades da comunidade regional em relação à qualificação de profissionais para a área educacional; o quadro de professores é marcado por uma formação docente interiorizada; e as matrizes curriculares sofreram consecutivas alterações marcadas por necessidades de ordem mercadológica e de ordem legal. Em relação aos ementários das disciplinas curriculares, chegamos à constituição das seguintes categorias de análise: (pro)fusão de saberes; (con)fusão entre saberes; identificação/confronto de saberes e pedagogização/didatização de saberes. Entendemos que as relações de (pro)fusão, (con)fusão, identificação, confronto e pedagogização/didatização de saberes se fazem, no nível de constituição, pelo funcionamento do interdiscurso sobre o que já foi dito, sobre o repetível. Nessas relações, observamos também o funcionamento intradiscursivo que é do nível da formulação, na qual se realiza o trabalho de articular os sentidos dispersos no interdiscurso. Consideramos que o funcionamento dessas relações de saberes marca a constituição de um lugar de entremeio na relação Linguística e ensino e que essa relação de entremeio está marcada na articulação intradiscursiva, possível apenas porque funciona no nível interdiscursivo, marcando, assim, um alargamento do objeto da Linguística.