A poética de Manoel Camilo dos Santos: um diálogo entre a poesia popular do nordeste e a literatura culta
Resumo
O transcurso da literatura brasileira parece concentrar em negativo a história da literatura
popular. Há um sentimento ambíguo de rejeição, de ressentimento e de nostalgia que
permeiam a arte e a crítica, sobretudo, na manifestação romântica que, por ser o momento
crucial desse contato, representou o corte mais incisivo de qualquer influência de uma
tradição popular. No movimento que o sucede, detectamos a crítica generalizada em que, se a
literatura canônica encontrava-se como foco de exame, a literatura à margem também
vivenciava juízos e teorizações que atingiam seus principais produtores: o povo miscigenado
do interior dos estados nordestinos. Nosso foco principal nessa tese foi recriar, com base na
literatura de caráter popular, um diálogo com a literatura culta, que tomava forma no discurso
poético e crítico. Para tanto, selecionamos um caso de relevante expressão: Manoel Camilo
dos Santos. Junto a esse fenômeno popular vieram gratas surpresas, pois a sua complexa
produção demonstra, desde a mais corriqueira manifestação, um diálogo constante com a
literatura culta. O conjunto da obra desse autor pode ser revisado em suas mais variadas
formas: os folhetos; a escrita em prosa e verso presente na Autobiografia do poeta (1979); os
elementos paratextuais presentes nas contracapas, que além de atestarem um uso diferenciado,
atestavam ainda o uso de estratégias de consagração diante dos consumidores de folhetos,
mas, sobretudo, diante do público culto que porventura lesse o folheto; por fim, O livro dos
sete episódios de Manoel Camilo dos Santos, um manuscrito pertencente ao acervo da
Academia Brasileira de Literatura de Cordel, datado de 1985 e jamais publicado.