Intoxicação experimental por Ateleia glazioviana em ovinos: patogênese e bases morfológicas da falha reprodutiva, da insuficiência cardíaca e dos distúrbios neurológicos
Resumo
Este estudo foi realizado para investigar os seguintes aspectos da intoxicação por Ateleia glazioviana em ovinos: (1) as propriedades abortivas da planta e a patogênese dos abortos e da falha reprodutiva associada à toxicose e (2) a morfologia e patogênese das lesões cardíacas e encefálicas. Para a primeira parte do experimento, 17 ovelhas prenhes receberam, por via oral, diferentes quantidades das folhas verdes ou secas de A. glazioviana fracionadas em 1-24 doses diárias. Todas as 17 ovelhas manifestaram alguma forma de falha reprodutiva. Nove ovelhas (52,9%) abortaram seus fetos aos 4- 36 dias após o início da administração da planta; houve um natimorto e uma morte intra-uterina. Seis ovelhas pariram 8 cordeiros fracos, sete dos quais morreram de
alguns minutos até 48 horas após o nascimento. Alterações macro e microscópicas observadas em cordeiros, num natimorto e nos fetos abortados eram notavelmente
semelhantes às observadas na intoxicação espontânea por A. glazioviana em ruminantes. Foi concluído que os abortos causados por A. glazioviana são devidos às lesões induzidas no feto por via transplacentária e consistem de miocardiopatia tóxica e degeneração esponjosa da substância branca do encéfalo. Para a segunda parte do experimento, 15 ovinos adultos receberam diferentes quantidades diárias das folhas
verdes frescas de A. glazioviana por vários períodos de tempo (1-24 dias). Os sinais clínicos observados nos ovinos afetados incluíram depressão, anorexia, fraqueza, incoordenação e decúbito prolongado. Um ovino apresentou sinais de insuficiência cardíaca congestiva. Os achados de necropsia incluíram edema subcutâneo e das cavidades orgânicas em dois ovinos e fígado de noz moscada em um. Os achados
histopatológicos incluíram degeneração, necrose e fibrose intersticial no miocárdio em 4 ovinos e degeneração esponjosa da substância branca do encéfalo (status spongiosus) em 10 ovinos. A ultra-estrutura da lesão encefálica foi morfologicamente classificada no grupo das mielinopatias espongiformes em que ocorre vacuolização da mielina sem
degradação ou fagocitose significativas