Identificação e determinação de fármacos ansiolíticos e antiepilépticos e seus metabólitos em efluente hospitalar
Resumo
Uma nova metodologia analítica foi desenvolvida com a finalidade de investigar a presença de cinco fármacos
psicoativos (ansiolíticos e antiepilépticos): bromazepam, carbamazepina, clonazepam, diazepam e lorazepam
no efluente do Hospital Universitário de Santa Maria (HUSM) da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM),
visto que estes compostos são amplamente utilizados no tratamento da ansiedade e da epilepsia. As amostras
foram coletadas de dois pontos para a verificação da concentração dos compostos: o Ponto A (efluente do PAHUSM)
e o ponto B (efluente geral que abrange o HUSM e a Biblioteca Central). Utilizou-se um método de
clean-up/pré-concentração por extração em fase sólida, para avaliar a ocorrência de ansiolíticos e
antiepilépticos no efluente do HUSM. Deste modo, três métodos para determinar estes compostos foram
desenvolvidos e validados: i) cromatografia líquida de alta eficiência com detecção por ultravioleta (HPLC-UV),
ii) cromatografia líquida de alta eficiência com detecção por espectrometria de massa (LC-MS) e iii)
cromatografia líquida acoplada a espectrometria de massa com ionização por eletronebulização e armadilha de
íons (LC-MS/MS_Qtrap). Dentre os métodos avaliados, o LC-MS/MS_Qtrap com eletronebulização no modo
positivo obteve melhores resultados. O limite de detecção (LOD, S/N ≥3) para bromazepam e lorazepam foi
4,90±0,95 ng L-1 e, para carbamazepina, clonazepam e diazepam, 6,10±1,50 ng L-1. O limite de quantificação
(LOQ, S/N ≥10) foi de 30,00±1,10 ng L-1, para bromazepam, clonazepam e lorazepam; carbamazepina,
50,00±1,81 ng L-1 e, diazepam, 40,00±0,98 ng L-1. A faixa linear do método (LC-MS/MS_Qtrap) para
bromazepam foi de 30-1500 ng L-1, para carbamazepina 50-2500 ng L-1; clonazepam de 30-2500 ng L-1,
diazepam 40-2500 ng L-1 e para lorazepam foi de 30-2000 ng L-1. O coeficiente de correlação (R2 >0,997) para
todos os compostos. A eficiência da metodologia foi verificada através da recuperação com a fortificação em
três níveis de concentração em triplicata de amostras de efluente hospitalar. As taxas de recuperação média
constatadas foram: para bromazepam 93,9%±2,1; carbamazepina 92,6%±4,2; clonazepam 93,9%±3,0;
diazepam 91,8%±6,0 e lorazepam foi de 93,8%±4,3. As concentrações médias das drogas psiquiátricas
detectadas no efluente do PA-HUSM e efluente geral foram respectivamente: bromazepam, 195,0±6,4 ng L-1 e
137,1±7,0 ng L-1; carbamazepina, 589,6±6,1 ng L-1 e 460,7±9,3 ng L-1, diazepam, 645,0±0,3 ng L-1 e 571,0±9,9
ng L-1, lorazepam, 95,7±6,7 ng L-1 e 42,4±4,2 ng L-1 e clonazepam, 134,3±9,8 ng L-1 e 56,9±9,9 ng L-1. A
identificação dos metabólitos no efluente hospitalar foi realizada através de LC-MS/MS_Qtrap. Os metabólitos
identificados foram: 3-hidroxi-bromazepam (bromazepam), 7-amino-clonazepam (clonazepam), carbamazepina
10,11-epóxido, 10-dihidroxi-10,11-dihidrocarbamazepina, iminoquinona, 2-hidroxi-carbamazepina e acridona
(carbamazepina), nordiazepam, oxazepam e temazepam (diazepam) e, seus caminhos de fragmentação foram
propostos. Foi realizada uma avaliação de risco preliminar de ansiolíticos e antiepilépticos com o auxílio de
dados da literatura e foi verificado que os compostos carbamazepina e diazepam apresentaram maior risco com
Quociente de Risco teórico (0,85 e 0,90, respectivamente) entre os compostos analisados. De acordo com os
resultados obtidos pode-se dizer que apresentam risco médio, requerendo maior atenção em termos de
toxicidade. Entretanto, dados na literatura não foram encontrados sobre a Concentração Prevista que Não
Causa Efeito (PNEC) para bromazepam, clonazepam e lorazepam, impossibilitando o cálculo do quociente de
risco (QR) para estes compostos. Portanto, foi evidenciada a ocorrência de ansiolíticos e antiepilépticos no
efluente do HUSM em concentrações na ordem de ng L-1. O método analítico por LC-MS/MS_Qtrap
desenvolvido para a determinação das drogas psicoativas (bromazepam, carbamazepina, clonazepam,
diazepam e lorazepam) no efluente hospitalar provou ser sensível, seletivo, dispensando manipulação laboriosa
da amostra e exigindo corrida cromatográfica de apenas 15 minutos. A ocorrência destes fármacos e os riscos
ambientais associados demonstram a necessidade de sistema mais eficiente de tratamento para o efluente
hospitalar.