Avaliação da atividade de ectonucleotidases e acetilcolinesterase em ratos expostos à fumaça de cigarro e nicotina
Resumo
A fumaça de cigarro é um grave problema de saúde e a mais importante causa de morte
evitável no mundo. Possui uma complexa mistura com mais de 4000 constituintes, incluindo a
nicotina e compostos que geram espécies reativas de oxigênio (EROs) no organismo. A causa mais
comum de sua toxicidade é a aterosclerose e a peroxidação lipídica sendo a nicotina um composto
imunossupressor. Entre as alterações celulares causadas pela nicotina, destacam-se os distúrbios na
agregação de plaquetas e estas participam da regulação nos processos tromboembólicos, pela
liberação de nucleotídeos tais como a adenosina difosfato (ADP). Uma vez exercido os eventos de
sinalização os nucleotídeos são degradados pela ação das enzimas NTPDases, 5´-nucleotidase e
adenosina desaminase (ADA). Esta cascata enzimática de hidrólise das purinas também está
presente nos linfócitos e fornece um grande leque de sinalizações modulando a resposta imune.
Outra molécula importante de sinalização é a acetilcolina (ACh) que é rapidamente hidrolisada pela
acetilcolinesterase (AChE) e está associada ao processo de cognição. A primeira hipótese a ser
testada neste estudo foi investigar a atividade das ectonucleotidases em plaquetas e a ADA no
plasma de ratos expostos à fumaça de cigarro por quatro semanas. Os resultados em plaquetas
demonstraram um aumento para a hidrólise de adenosina trifosfato (ATP), ADP, adenosina
monofosfato (AMP) e adenosina. Esses resultados sugerem uma resposta orgânica compensatória
com objetivo de manter os níveis de adenosina, um potente inibidor da agregação plaquetária e
importante modulador do tônus vascular. A segunda hipótese foi realizar estudos in vivo e in vitro da
hidrólise de nucleotídeos e nucleosídeos em linfócitos de ratos submetidos a exposição à nicotina per
se. Os resultados in vivo de linfócitos demonstraram um decréscimo da hidrólise de ATP, ADP e
adenosina nas concentrações de nicotina de 0,25 e 1,0 mg/kg. A expressão da proteína NTPDase e a
contagem de linfócitos em ratos também foram diminuídas pela nicotina. A determinação dos níveis
de nucleotídeos e nucleosídeos no soro de ratos tratados com nicotina na dose de 0,25 mg/kg
aumentou para o ATP (39%), o ADP (39%) e a adenosina (303%). Para o estudo in vitro a hidrólise
de ATP-ADP-adenosina foi diminuída pelas concentraçoes de nicotina (1 mM, 5 mM, 10 mM e 50
mM). Estes resultados sugerem que alterações na atividade e expressão destas enzimas nos
linfócitos pode contribuir para a compreensão dos mecanismos envolvendo a supressão da resposta
imune causada pela nicotina. Por fim, a terceira hipótese, foi investigar a atividade da AChE e o nível
de peroxidação lipídica no estriado (ES), no córtex cerebral (CC), no hipocampo (HC) e no cerebelo
(CE) de ratos expostos à fumaça de cigarro e tratados com vitamina E (50 mg/kg/dia) por quatro
semanas. Os resultados demonstraram um aumento na atividade da AChE e no nível de peroxidação
lipídica no ES, no CC e no CE, sugerindo que este tipo de exposição pode afetar a funcionalidade do
sistema colinérgico e aumentar os danos oxidativos no sistema nervoso central (SNC). Em adição, a
Vitamina E foi capaz de reverter estes efeitos, o que sugere uma boa escolha de terapia com este
antioxidante neste tipo de exposição. Alem disso, este estudo também pode sugerir que a fumaça de
cigarro e a nicotina modulam o sistema purinérgico de plaquetas e linfócitos, o que pode levar a
propensão de doenças tromboembólicas e imunossupressoras, com a mobilização das defesas do
organismo para uma resposta compensatória.