Educação integral e o paradigma da educomunicação: um estudo sobre o Programa Mais Educação nas escolas de Santa Maria/RS
Resumo
O Programa Mais Educação (PME), instituído em 2007, surge como uma estratégia do Governo
Federal para indução da ampliação da jornada escolar e a organização curricular, na perspectiva da
Educação Integral, visando uma melhor aprendizagem aos estudantes das escolas da rede pública, por
meio de atividades inter/transdisciplinares de variadas naturezas, dentre elas, a comunicação e a
cultura digital. Tendo em vista a ampla missão e que se insere em diferentes contextos e realidades,
optamos por aprofundar em Santa Maria RS. Para tanto, nos questionamos de que forma as escolas
da rede municipal de ensino de Santa Maria RS se apropriam da educomunicação para o
desenvolvimento das atividades propostas pelos diferentes macrocampos do Programa Mais Educação
(PME)? Quais as especificidades, identidade, do macrocampo da comunicação e cultura digital nas
Escolas de Santa Maria? (perfil do monitor, metodologias, temáticas, dispositivos e processos). Para
responder a esses questionamentos, buscouse
investigar as apropriações da educomunicação pelos
diferentes macrocampos do Programa Mais Educação na Rede Municipal de Ensino de Santa Maria
RS, no período de 2010 a 2014. Além desse objetivo geral, almejouse:
1) estudar a interface entre
comunicação e educação no contexto de políticas públicas numa perspectiva de ensino integral;
2) Mapear as escolas que aderiram ao Programa Mais Educação no RS e os macrocampos escolhidos
pra fins de contextualização da pesquisa local; 3) Investigar o processo de desenvolvimento do PME
(perfil dos monitores, metodologias, temáticas, dispositivos), do macrocampo Comunicação e Cultura
Digital nas Escolas de Santa Maria/RS; 4) Compreender os desafios e oportunidades no
desenvolvimento do PME nas escolas da Rede Municipal de Santa Maria RS; 5) Identificar se e de
que forma o PME possibilita o empoderamento do educando nos aspectos: cognitivo, psicológico,
cultural e político. Para alcançar aos objetivos propostos, realizamos uma pesquisa quali/quantitativa,
de nível exploratório (LOPES, 2010). Como método, nos apropriamos do estudo de caso (FACHIN,
2001). Para discutir a epistemologia e práxis da educomunicação e discorrer sobre a educação integral,
realizamos pesquisa bibliográfica (STUMPF, 2011) (re)visitando autores como Soares (1999; 2011a;
2011b, 2014), Moll (2012), Titton e Pacheco (2012), Morin (2007), Certeau (2008; 2005; 2003),
Santos (2007), Touraine (2006), Kaplún (1998) e Freire (1978; 1983), e também pesquisa documental
(FONSECA, 2002) para aprofundamento analítico do objeto. Em relação às técnicas de pesquisa,
aplicamos questionários modelo semiaberto, com questões semiestruturadas e respostas
indeterminadas (DUARTE, 2011) com coordenadores e monitores e realizamos entrevistas em
profundidade com assessores e estudantes. Além disso, também realizamos observação direta (YIN,
2005) em cinco escolas municipais da cidade. Como resultados, identificamos a centralidade do
sujeito no processo, tanto do monitor quanto do coordenador. Pois mesmo com todas as adversidades
encontradas, principalmente pela falta de infraestrutura, a maioria das escolas está conseguindo
articular parcerias, desenvolver as atividades de forma criativa, envolver a comunidade escolar e
superar as resistências históricas e sociais. Em relação à apropriação da educomunicação,
identificamos que ocorre de maneira criativa, tanto transversalmente nos diferentes macrocampos,
quanto no macrocampo específico. As principais possibilidades de empoderamento identificadas pelos
sujeitos de pesquisa ocorrem no âmbito psicológico e cognitivo, com mudanças na autoestima e
melhora no aprendizado do estudante. Por outro lado, também constatamos muitas resistências em
relação ao PME. As mesmas estão ligadas à falta de infraestrutura, aos choques culturais causados
pela abertura da escola a novos sujeitos e mudanças no cotidiano escolar. Em termos da
responsabilidade do Estado no desenvolvimento dessa política pública constatouse
a desproporção
entre os recursos e infraestrutura disponibilizada em relação à missão exigida de ampliação dos
espaços, tempos e sujeitos educativos.