John Dewey e a educação como "reconstrução da experiência": um possível diálogo com a educação contemporânea
Resumo
Esta pesquisa foi desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Educação/Mestrado, da Universidade Federal de Santa Maria (PPGE/UFSM) e está vinculada à Linha de Pesquisa: Educação, Política e Cultura. Teve como objetivo principal, conhecer o conceito de experiência presente na obra de John Dewey, na expressão educação como construção e reconstrução de experiência , própria do autor. Através da pesquisa bibliográfica em algumas obras sobre educação de John Dewey, delinearam-se elementos caracterizadores da experiência. A investigação ocupou-se, também, em entender e refletir, por meio da literatura atual, sobre o que caracteriza a cultura escolar hoje, quais são as concepções que alimentam a valorização da cultura experiencial do aluno no ambiente da escola. Por ser a escola entendida hoje como um ambiente não só entremeado, mas produtor de cultura e, também, produtor de um discurso de valorização da experiência do aluno, o estudo sobre a crise de paradigmas constituidores da experiência fez-se necessário. Sendo assim, questionou-se a condição atual da escola em meio aos diferentes impasses que ela vem sofrendo, especialmente pela separação entre os saberes escolares e a vida do aluno. Com o intuito de abranger os discursos educacionais atuais de valorização da experiência proferidos dentro do próprio ambiente da escola, também foram trazidas para a reflexão, mediante entrevistas semi-estruturadas, falas de seis professoras atuantes na educação de crianças de uma escola pública. Tais entrevistas, analisadas através da técnica de análise de conteúdo e de análise textual, receberam uma leitura voltada para a compreensão daquilo que sustenta o conceito de experiência. Nesse sentido, foram estudadas as concepções de ensino, aprendizagem, aluno e o papel do professor presentes nos discursos das professoras. Ao comparar as concepções deweyanas de educação e o que hoje se apresenta na escola como elemento caracterizador da experiência, nossa pesquisa conclui que ainda estamos assentados em uma educação basicamente tradicional que, embora se diga fomentadora de experiências no espaço da escola, reduz esta compreensão ao ir lá e fazer . E, quando se diz conhecedora das experiências do aluno, não as concebe como possibilitadoras de novas construções, no sentido encadeado e contínuo do processo de construção do conhecimento. As falas da maioria das professoras apontam uma dimensão da experiência voltada para vivências, situações imediatas, práticas, no sentido restrito do termo. Sendo assim, embora se professe a valorização da experiência do aluno, a necessidade e a importância de trazer a vida do mesmo para o ambiente da escola, isso ainda é feito de maneira superficial, sem a intencionalidade inerente a uma compreensão da experiência como acontecimento de crescimento e aperfeiçoamento do ser humano; ou seja, a experiência e sua reconstrução contínua como um processo de construção do conhecimento. Esta impossibilidade de confluir o conceito deweyano de experiência com aquilo que é proferido nos discursos educacionais atuais se deve, especialmente, à falta de fundamentação daquilo que se professa nos tempos de hoje.