A formação docente na racionalidade inclusiva: práticas de governamento dos professores de surdos
Date
2009-08-28Metadata
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Este estudo se propôs a problematizar os discursos da formação docente nas/das políticas de diversidade e seus efeitos na constituição e governamento dos professores de surdos. Para tanto, utilizou-se um conjunto de ferramentas de análise extraídas do campo dos Estudos Foucaultianos em Educação, principalmente aquelas que estão próximas das pesquisas de tendência pós-estruturalista, bem como algumas contribuições do pensamento de Zigmunt Bauman. Tomou-se como materialidade a política de formação de professores de surdos no contexto da inclusão, mais especificamente, o Material de Formação Docente do Projeto Educar na Diversidade (BRASIL, 2005), o volume Saberes e Práticas da inclusão: desenvolvendo competências para o atendimento às necessidades educacionais de alunos surdos (BRASIL, 2006a) e a publicação Educação Infantil: Saberes e Práticas da Inclusão Dificuldades de Comunicação e Sinalização: Surdez (6) (BRASIL, 2006b). Ao explicar o movimento da formação docente na lógica da diversidade como dispositivo de
governamentalidade do professor, esta investigação pretendeu contribuir para o entendimento de como a racionalidade neoliberal cruza esse projeto, constituindo o docente de surdos no interior de uma tecnologia que opera o governamento dos outros e o autogovernamento, tendo
na tolerância e na polivalência duas das suas principais dobradiças. Para tanto, verificou-se o acionamento de técnicas de prescrição e exotização do estudante surdo (acionadas pela incorporação da polivalência à expertise na atuação do professor), alinhadas a práticas de sensibilização e engajamento docente (investidas pelo regime moral da tolerância), numa espécie de política de contenção do risco: o risco de os docentes depararem-se com alunos surdos em suas aulas e não saberem como proceder, como educá-los, como se dirigir a eles. Tudo isso posto, foi possível traçar uma analogia com o pensamento de Bauman, que posiciona os turistas como os heróis da pós-modernidade. Também na formação docente para a inclusão, é possível notar uma espécie de regime turístico. Ser um professor turista, nessa
tônica, é ser errante, mutável, empresário da própria conduta nas viagens pelos territórios antes desconhecidos dos sujeitos da diversidade. Assim, esta pesquisa pretendeu
problematizar as manobras políticas implicadas na formação docente para a diversidade, no sentido de fabricar e governar o professor de surdos interessante à engrenagem neoliberal:
flexível, polivalente, engajado, autogerenciado e tolerante.