Somos da Quarta Colônia: os sentidos de uma identidade territorial em construção
Resumo
Esta dissertação aborda a experiência de nove municípios da região central do Rio Grande do Sul de formarem um consórcio inter-municipal, estratégia que resultou na construção social de um novo território: a Quarta Colônia. O estudo objetivou
mapear a teia de significados que sustenta a narrativa sobre a identidade territorial da Quarta Colônia, buscando também verificar como esta narrativa se estabeleceu em meio às negociações identitárias e a partir do olhar dos visitantes. O estudo fundamenta-se nas noções que abrangem a questão identitária no mundo contemporâneo, em um contexto permeado por amplas transformações nas relações sociais e de consumo, bem como pela emergência de novas identidades. Tendo como base de análise o método etnográfico conjugado a técnicas de pesquisa como
a análise de discurso e análise de conteúdo dos materiais de divulgação do território e em questionários estruturados aplicados em eventos, verificou-se que a identidade
territorial da Quarta Colônia sustenta-se sob uma teia de significados tecida a partir de uma heterogeneidade de elementos. O patrimônio natural e cultural, os costumes,
as tradições, os saberes e fazeres dos antigos colonizadores são as referências para o pertencimento. Os sentidos da narrativa identitária ancoram-se, portanto, na reivindicação étnica, principalmente da italianidade, referenciada por um passado colonial, um tempo constantemente revisitado e exaltado nos discursos afirmativos, nos rituais festivos e demais espaços de sociabilidade. A narrativa fundamenta-se
em mitos de ancestralidade, tendo na gastronomia uma importante matriz de sentidos de identificação e diferenciação, produzindo uma recorrente reivindicação
de uma noção de tipicidade difusa, ainda sem maiores pretensões a reivindicações de singularidades. Em meio às negociações estabelecidas para a construção da
identidade territorial, verificou-se que a narrativa recorre a uma retórica da multiplicidade étnica, embora sejam amplamente predominantes os elementos e significados vinculados à italianidade no cotidiano e no imaginário da territorialidade. Revela-se, assim, que a construção da identidade territorial da Quarta Colônia se processa em espaços de fricção interétnica, estando imersa em relações de poder que dirigem a narrativa de forma hegemônica.
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