As representações de natureza e o discurso do Movimento dos Atingidos por Barragens: uma leitura à partir do campo ambiental
Resumo
A proposta principal deste trabalho é efetuar a análise do discurso do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), além de buscar elementos que permitam dissertar sobre este e sua posição o campo ambiental. Através do estudo das
representações acerca da natureza contidas no discurso, discutem-se alguns aspectos que contornam o que hoje denomina-se de questão ambiental. Nesse caso aceita-se o construcionismo social e o recurso metodológico do campo social como ferramentas para argumentar em favor da existência de diversas matrizes discursivas, que conferem ao discurso sobre o ambiente a característica da polifonia.
O método deste trabalho apóia-se principalmente na revisão bibliográfica e na análise de discurso, utilizando-se de fragmentos de textos contidos na mídia impressa de duas campanhas do MAB como material empírico. Discutem-se
primeiramente os aspectos históricos e sociais formadores do discurso ambiental, uma vez que estes são constitutivos e determinantes para o seu entendimento. Inicia-se com um breve relato a respeito das representações atribuídas ao mundo natural no ocidente ao longo da história, para logo após examinarem-se algumas das principais correntes do ambientalismo contemporâneo. Uma vez que utiliza-se
da ancoragem nas representações presentes no cotidiano das populações de atingidos por barragens, o discurso do Movimento dos Atingidos por Barragens possui a estruturação necessária para a mobilização das comunidades atingidas,
colocando-se em determinados momentos como um contraponto daquelas representações contidas no discurso oficial e/ou hegemônico à respeito das questões ambientais. Por outro lado, o relato histórico coloca em evidência uma
determinada filiação das representações atuais de natureza com aquelas construídas no passado. Assim, os signos de uma natureza mítica presentes no discurso do movimento podem obter a força mobilizadora em outros setores sociais, dada a forte presença da natureza sacralizada no imaginário popular. Sob a ótica do construcionismo, do campo ambiental e da análise de discurso, a posição dos agentes e as relações de poder na sociedade capitalista, devem ser os principais
objetos a serem focalizados quando a meta é compreender o que realmente representa a natureza em determinado discurso, em detrimento daquilo que apregoa o senso comum.