Jovens rurais em migrações internacionais
Resumo
Os jovens rurais classicamente integraram os processos migratórios internos, mas recentemente os mesmos
vêm constituindo também os internacionais. Assim, o estudo analisou como os jovens rurais oriundos da
agricultura familiar vivenciaram as migrações internacionais contemporâneas em suas variadas fases, sendo
elas emigração, viagem, imigração e retorno. De natureza qualitativa, o estudo foi conduzido no formato de
estudo de caso e realizado no município de Itapuranga, estado de Goiás, Brasil. Coletaram-se dados através
de 09 entrevistas com agentes sociais que vivenciaram migrações internacionais em sua juventude. Embora
adultos no momento das entrevistas, esses recorreram às suas memórias para reconstruir as vivências
migratórias internacionais como jovens rurais. Também foram entrevistados 17 informantes-chave e
coletados outros dados através de observação, pesquisa documental e pesquisa bibliográfica. Em
Itapuranga, constatou-se a existência de uma cultura de migração na agricultura familiar, sendo as
migrações comuns nesse contexto. Essa cultura interferiu sobre as socializações dos jovens rurais,
expandindo seus horizontes sociais do local para o global . Inúmeras condicionantes socioeconômicas
favoreceram essas emigrações internacionais, sobretudo no início do século XXI, envolvendo a crise na
agricultura familiar, escassas alternativas de trabalho e educação na região, desvalorização da moeda
nacional e constituição de redes migratórias internacionais. Assim, foram construídos projetos migratórios
internacionais em busca de reprodução social e autonomia. Essas migrações internacionais foram
indocumentadas e aconteceram através de rotas distintas: rota legal, com vistos e direcionada a nações
situadas no continente americano e europeu, realizada via aérea; e rota ilegal, sem vistos e direcionada
somente aos Estados Unidos, com um segmento da travessia via terrestre no México. Nessa última, foi
intensa a participação da indústria de imigração, aumentando os riscos nas viagens. Os principais destinos
dos migrantes consistiram nos Estados Unidos e nações europeias. A imigração se destacou em virtude dos
estranhamentos culturais e ambientais no exterior e da vulnerabilidade dos migrantes no trabalho, inseridos
em serviços mal remunerados e exaustivos com o intuito de acumular dinheiro, inclusive na prostituição.
Os migrantes também vivenciaram condições de moradia precárias e não conseguiram dedicar tempo à
educação. A imigração foi vivenciada na solidão em razão dos embaraçosos relacionamentos com os
estrangeiros e com outros imigrantes brasileiros, acentuando a saudade e a comunicação com os familiares
e amigos no Brasil. A maioria retornou ao acumular uma quantia significativa de dinheiro, incentivados
pela crise econômica internacional, estabilização da economia brasileira, valorização do real, saudade das
famílias e avanço de suas idades, principalmente em meados da primeira década do século XXI. Os
retornos também ressignificaram os vínculos dos migrantes com o meio rural e a agricultura familiar,
favorecendo o surgimento de novas ruralidades. Além disso, tornaram híbridas as identidades desses
migrantes e assinalaram o fim da juventude dos mesmos. Assim, concluiu-se que as migrações
internacionais entre jovens rurais oriundos da agricultura familiar de Itapuranga não foram unidirecionais,
caracterizadas por idas e vindas, mostrando maneiras diferentes de vivenciar a juventude nas áreas rurais.
Concluiu-se, também, a necessidade de políticas públicas e ações extensionistas relacionadas com as
singularidades desses migrantes internacionais.