O lugar do ouvinte nas narrativas radiofônicas: concessão de voz e critérios de acionamento dos ouvintes-enunciadores
Resumo
A temática central desenvolvida nesta Tese é a participação do ouvinte nas narrativas
jornalísticas radiofônicas. A investigação teve como principal objetivo identificar, pela análise
de um produto midiático, quais os critérios e circunstâncias responsáveis por influenciar o
acionamento e a concessão de voz aos ouvintes-enunciadores na configuração de narrativas
jornalísticas radiofônicas transmitidas em tempo real. Para isso, a Tese ancora-se teórica e
metodologicamente nos Estudos da Narrativa, especificamente na Análise Crítica da
Narrativa, método proposto por Motta (2013b). A partir desta perspectiva, o trabalho discute a
compreensão do jornalismo como narrativa do tempo presente e as características das
narrativas radiofônicas de acordo com suas especificidades. Empiricamente, a Tese analisa
cinco narrativas radiofônicas com temáticas distintas configuradas no programa Gaúcha
Atualidade, pertencente à grade de programação da emissora porto-alegrense Rádio Gaúcha, e
veiculadas entre os meses de julho e setembro de 2016. Em uma primeira etapa, a análise
comparou o conjunto de vozes acionado na configuração das narrativas, enfatizando quanti e
qualitativamente as intervenções da audiência. Em seguida, as sequências narrativas, em que
foram identificadas contribuições enviadas por ouvintes, foram examinadas individualmente e
classificadas de acordo com os atributos dos ouvintes-enunciadores, das mensagens e quanto
aos efeitos valorativos gerados. A sistematização dos resultados levou à identificação de sete
principais critérios responsáveis pelo acionamento e concessão de voz aos ouvintes: a) o tipo
de acontecimento narrado; b) a atualidade e a imediaticidade das mensagens enviadas pela
audiência; c) a saturação de mensagens com conteúdo semelhante; d) o testemunho e a
credibilidade da informação enviada pelo ouvinte; e) a localização geográfica do ouvinteenunciador;
f) a qualificação do ouvinte-enunciador; e g) a adequação e reforço do projeto
dramático assumido na narrativa. A Tese conclui que o acionamento e a concessão de voz aos
ouvintes, além de serem controlados pelo veículo e seus profissionais, também são
instrumentais, de modo que atendem a determinados propósitos dentro do enquadramento
(projeto dramático) proposto para cada narrativa. De forma ampliada, a pesquisa reflete sobre
a relevância, do ponto de vista jornalístico, da abertura de espaço para a participação
sincrônica do ouvinte nas narrativas radiofônicas, considerando que esta participação pode ser
entendida como uma técnica de enunciação peculiar às narrativas radiofônicas, empregadas
com diferentes objetivos, porém norteadas pela intenção de envolver a audiência, produzindo
efeitos de proximidade e pertencimento que, por sua vez, levam à fidelização da audiência e à
consequente viabilidade econômica do veículo.
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