Campo jornalístico na pós-verdade: estratégias argumentativas de um jornalismo político desafiado pela desinformação
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Fecha
2023-06-07Primeiro membro da banca
Araújo, Bruno Bernardo de
Segundo membro da banca
Tavares, Camilla Quesada
Terceiro membro da banca
Storch, Laura Strelow
Quarto membro da banca
Borelli, Viviane
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Mostrar el registro completo del ítemResumen
A tese discute as estratégias discursivo-argumentativas do jornalismo contemporâneo na busca por manter a sua legitimidade enquanto ator social fornecedor de informações confiáveis à sociedade. Apresenta uma reflexão sobre os processos de deslegitimação do jornalismo, principalmente a partir do desenvolvimento exponencial das Teconologias de Informação e Comunicação e consequente aumento do uso das redes sociais digitais. Considera que as mudanças no ecossistema de comunicação impactaram diretamente na oferta de conteúdo à sociedade e na qualidade do material distribuído. A diminuição da credibilidade do jornalismo é percebida a partir do abandono de consumo de informação jornalística em detrimento de informações diversas sem comprovação, corriqueiramente chamadas de fake news (TANDOC et. al., 2017; LAZER et. al., 2018; DOURADO; GOMES, 2019), uma das nomenclaturas dadas à desinformação (WARDLE; DERAKHSHAN, 2017), numa época sociologicamente definida como pós-modernidade (LYOTARD, 2020). A proliferação da desinformação e dos seus efeitos é compreendida sob o conceito de pós-verdade (TESICH, 1992; OXFORD LANGUAGES, 2016; ZARZALEJOS, 2017; MCINTYRE, 2018; ARAÚJO, 2020), termo que denota a irrelevância da verdade e da racionalidade em detrimento da formação de opinião por emoções e crenças. A partir desse contexto, busca-se identificar que ethos (MAINGUENEAU, 2020; AMOSSY, 2018b) o campo jornalístico afirma perante a pós-verdade; quais estratégias o jornalismo aciona em sua defesa e quais alternativas o campo tem para a preservação da sua legitimidade social. Para tal, investigam-se 389 editoriais dos jornais brasileiros Folha de S.Paulo, O Estado de S. Paulo e O Globo entre os anos de 2019 e 2022. A metodologia se fundamenta na Análise Discursiva Argumentativa (AMOSSY, 2018a; 2018c; CHARAUDEAU, 2015b; ORLANDI, 2015; 1990; PÊCHEUX, 1990), desenvolvida justamente para responder as dúvidas que motivam este texto. Ela é combinada à análise do discurso e à Linguística de Corpus e esta confirma a possibilidade de se expandir as inferências da AD tradicional a um conjunto volumoso de textos. A partir de uma contextualização socio-histórica introdutória, o texto apresenta o campo jornalístico contemporâneo como um espaço de incertezas acerca do seu futuro; a influência do campo econômico sobre o jornalismo; a sua estruturação enquanto instituição e sujeito políticos; o seu papel enquanto enunciador do discurso e o ethos que o configura nesse contexto. Em seguida, aborda as desordens de informação (WARDLE; DERAKHSHAN, 2017) sob o conceito de pós-verdade para, então apresentar o suporte teórico-metodológico a partir da Análise do Discurso e da Análise Argumentativa, originando a Análise Discursiva Argumentativa (AMOSSY, 2018a; 2018c; CHARAUDEAU, 2015b; ORLANDI, 2015; 1990; PÊCHEUX, 1990), descrevendo o papel do leitor como elemento essencial na construção da estratégia argumentativa no editorial político; os softwares de linguística de corpus e sua aplicação à Análise Discursiva Argumentativa. A Análise Discursiva Argumentativa dos editoriais aponta uniformidade no modo como os três jornais apresentam seus principais valores: a partir de evidências compartilhadas e de pronomes pessoais, expõem seus valores de reforço ao ethos jornalístico (ética, credibilidade e imparcialidade) e estabelecem o vínculo com os leitores. Tais valores se somam a outro, a defesa da democracia, o que corrobora com a perspectiva do jornalismo enquanto ator político. Os jornais também estabelecem um vínculo de pertencimento ao se incluírem no conjunto “brasileiros”, aproximando-se dos leitores. Por fim, recorrem a estratégias que valorizam a argumentação por meio do raciocínio lógico, por meio de argumentos históricos, analogias e ilustrações. Conclui-se que a principal estratégia dos editoriais é se vincular com o auditório por valores universalmente reconhecidos e os esquemas argumentativos são acionados para validar estas premissas. O jornalismo defendido nos editoriais corresponde aos ideais clássicos do campo e, ao mesmo tempo que resgatam os valores tradicionais, defendem a atividade profissional como ação necessária para a defesa da democracia.
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