Ética e interculturalidade no tratamento midiático das migrações: da produção dos conteúdos à recepção dos migrantes
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Data
2024-03-22Primeiro membro da banca
Cogo, Denise
Segundo membro da banca
Escudero, Camila
Metadata
Mostrar registro completoResumo
O presente trabalho trata da temática migratória, em uma perspectiva de construção de
conhecimento junto a pessoas migrantes. Parte-se de uma abordagem qualitativa, que engloba
pesquisa teórica e empírica, na tentativa de responder a seguinte pergunta: considerando que a
ética e a interculturalidade deveriam ser premissas na produção de conteúdo sobre a temática
migratória, como o tratamento midiático das migrações é percebido pelas pessoas migrantes?
O objetivo geral do trabalho é investigar os processos de recepção do tratamento midiático
das migrações por parte de pessoas migrantes a partir de aspectos éticos e interculturais.
Foram definidos, ainda, quatro objetivos específicos: compreender a abordagem das mídias
sobre as migrações e a representação midiática de migrantes a partir de pesquisas anteriores;
mapear e compreender o que se desenha como ético na comunicação sobre as migrações a
partir de guias sobre a temática migratória; analisar o consumo de mídia das pessoas
migrantes participantes da pesquisa; compreender como a migração como mediação conduz a
percepção dos migrantes sobre o tratamento midiático das migrações. Na pesquisa teórica, a
representação é acionada a partir de Stuart Hall, em discussão com estereótipos, racismo,
xenofobia e derivações desses termos; a interculturalidade é discutida a partir de Néstor
García Canclini e de Alejandro Grimson; e a ética da mídia é problematizada a partir dos
estudos de Stephen Ward, Nick Couldry e Hugo Aznar. A pesquisa empírica foi conduzida em
duas frentes: uma pesquisa documental em guias de comunicação sobre as migrações, com
parâmetros éticos analisados a partir dos eixos Atuação Profissional e Produção de Conteúdo,
e um estudo de recepção com pessoas migrantes residentes no Brasil, tendo como
procedimento metodológico uma entrevista semi-aberta em profundidade, analisada a partir
dos eixos Migração como Mediação e Tratamento Midiático das Migrações. Na percepção
dos migrantes, os discursos que tratam da alteridade e do outro migrante são construídos a
partir de visões majoritariamente estereotipadas, em que o migrante é vitimizado,
subalternizado ou visto como uma ameaça. Há, entretanto, diferentes formas para narrar as
migrações. As perspectivas dos guias e as expectativas dos migrantes apontam para uma
comunicação mobilizadora, mais adequada e comprometida, que passa por uma conduta
empática e sensível dos comunicadores, aliada a um engajamento crítico junto à temática
migratória. As migrações precisam ser contadas considerando as causas que levam os sujeitos
a migrar, e as situações precisam ser contextualizadas, para evitar generalizações. Os
discursos precisam considerar uma perspectiva global, que olha para as migrações como um
processo, como um desafio social da atualidade transversal a todos os países e como uma
questão de direitos humanos, aliada a uma perspectiva local, que aproxima os sujeitos
migrantes da sociedade recebedora por meio de histórias sobre o cotidiano e sobre as
contribuições econômicas, sociais e culturais dos migrantes, dando destaque à sua agência.