O discurso das mulheres atingidas pelo acontecimento do desastre da Samarco no jornal A Sirene
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Date
2024-03-26Primeiro membro da banca
Silva, Maria Terezinha
Segundo membro da banca
Rodrigues, Hila Bernardete Silva
Terceiro membro da banca
Henriques, Márcio Simeone
Quarto membro da banca
Oliveira-Cruz, Milena Carvalho Bezerra de
Metadata
Show full item recordAbstract
Esta tese se propõe a refletir sobre os sentidos atribuídos ao desastre pelas mulheres atingidas pelo rompimento da barragem de rejeitos de minério da Samarco, em Mariana (MG). Parte-se da problemática de que há um processo de invisibilização das mulheres e dos assuntos associados a elas que se realiza na intersecção entre o discurso jornalístico de desastres e a estruturação simbólica e pragmática do próprio discurso jornalístico. Ampara-se em pesquisas que apontam um processo de silenciamento de aspectos sociais dos desastres na cobertura midiática (VALENCIO; VALENCIO, 2017, 2018) e, no imbricamento com o gênero, de constrangimento das mulheres a posições de subalternidade e vitimização (ENARSON; MORROW, 2000; MAYER et al, 2008; SIENA, 2009). Como objeto empírico, toma-se o jornal A Sirene, produzido por jornalistas e pessoas atingidas pelo desastre da Samarco. Dessa forma, tem-se como objetivo geral compreender como o jornal A Sirene configura o discurso das mulheres afetadas pelo desastre para analisar os núcleos de sentido presentes nos campos problemáticos mobilizados por elas, delinear a que Formações Discursivas estão ligados e relacioná-los com questões de gênero. Como aporte teórico, acionou-se os conceitos de acontecimento (FRANÇA, 2012; QUÉRÉ, 2005), discurso jornalístico de desastres (AMARAL; ASCENCIO; CRISTOBAL, 2020; AMARAL, 2011, 2013, 2015), além de teorias feministas (HARAWAY, 1995; RAGO, 2019; SCOTT, 1995) e da intersecção com o jornalismo (ESCOSTEGUY, 2020, LOBO et al., 2017; MORAES; VEIGA DA SILVA, 2019). A perspectiva da Análise do Discurso (PÊCHEUX, 2014, ORLANDI, 2020) ampara o trabalho enquanto referencial também metodológico por acreditar-se que é pelo discurso que se institui a produção de sentidos sociais a partir de relações de poder. Desenvolveu-se a análise em dois movimentos: o primeiro nos levou a concluir que as mulheres atingidas são acionadas como “fontes coautoras” pelo jornal A Sirene, devido ao grau de envolvimento com o veículo e a relevância de seus testemunhos na configuração de reportagens. A partir do segundo movimento, identificamos que as Formações Discursivas que conferem sentido aos discursos das mulheres operam nas lógicas da Resignação e do Empoderamento, fazendo com que elas oscilem entre discursos de conformismo e de resistência. Reconhecemos ainda oito campos problemáticos desvelados por elas, que orbitam em torno de dois eixos que operam um processo de hierarquização social, são eles: a estruturação dos saberes e a divisão sexual do trabalho e dupla moral sexual. Ainda identificamos que A Sirene, embora com limitações, politiza os temas atribuídos ao universo feminino, fazendo com que eles ganhem dimensão de pauta jornalística. Por fim, concluímos que o jornal A Sirene apresenta uma prática jornalística que se aproxima dos ideais das teorias feministas o que faz vislumbrar o potencial de transformação social que tem um jornalismo que atribui valor às histórias das mulheres e às histórias que contam as mulheres.
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