Qualidade do leite produzido em sistemas orgânico e convencional
Resumo
A preocupação com segurança alimentar, bem-estar animal e impactos no meio ambiente
causados pelos sistemas intensivos de produção, tem levado a um maior interesse por alimentos que
sejam oriundos de um sistema de produção sustentável. Neste contexto, a produção de leite orgânico
no Brasil cresceu consideravelmente nos últimos anos, porém pouco se sabe sobre a qualidade deste
alimento produzido no país. Para avaliar a qualidade do leite orgânico foram realizadas análises que
contemplaram aspectos da qualidade higiênica, composição química e a segurança quanto à presença
de resíduos químicos. Cinco marcas de leite orgânico pasteurizado certificado e cinco de leite
pasteurizado convencional comercializados em três Estados brasileiros foram coletadas entre maio de
2011 e março de 2012, com intervalo de dois meses, totalizando 29 amostras de leite orgânico (LO) e
27 de leite convencional (LC). As coletas de leite cru foram feitas de julho de 2011 a maio de 2012,
também bimestrais, em 20 propriedades orgânicas e 20 propriedades convencionais na região Oeste de
Santa Catarina, totalizando 120 amostras de LO e 115 de LC. No leite pasteurizado foram realizadas
análises físico-químicas e o perfil de ácidos graxos. No leite cru foram realizadas as análises de
composição química, contagem de células somáticas (CCS) e contagem bacteriana total (CBT). Ambos
os tipos de leite foram submetidos à determinação de agrotóxicos e medicamentos veterinários.
Comparando-se os resultados do leite cru, entre os dois sistemas de produção, não foi encontrado
diferença para o valor médio de gordura, proteína e sólidos totais, assim como para CCS. O leite
orgânico apresentou melhor qualidade em relação a contaminação microbiana e teor superior de
lactose. Para o leite pasteurizado com exceção do extrato seco desengordurado (ESD), todos os valores
médios dos parâmetros físicos e químicos atenderam aos limites da legislação brasileira. O perfil de
ácidos graxos sofreu efeito da origem geográfica, e em menor escala o efeito da sazonalidade,
provavelmente por diferenças no regime alimentar. Os leites obtidos no Rio Grande do Sul e em São
Paulo se caracterizaram por possuir valores superiores de ácidos graxos promotores da saúde, entre eles
o ácido linoléico conjugado (CLA), enquanto os leites coletados no Distrito Federal se caracterizaram
por concentrações superiores de ácidos graxos saturados. Os resultados para o leite cru e pasteurizado
indicam que o manejo orgânico por si só, não influenciou na qualidade do leite quanto aos aspectos de
composição química, que são determinados por vários fatores que independem do sistema de produção.
Não foram encontrados medicamentos veterinários em nenhuma das amostras analisadas. Quanto à
contaminação por agrotóxicos não houve diferença quando considerado o número de amostras
contaminadas em ambos os sistemas de produção. Os resultados indicam a necessidade de monitorar o
leite quanto a presença de agrotóxicos a fim de melhorar a segurança alimentar, principalmente para
leite orgânico, que deve estar livre desse tipo de contaminantes.