Infância, música e experiência: fragmentos do brincar e do musicar
Resumo
Esta tese discorre sobre infância, música e experiência, de modo dialógico e não linear. É composta/estruturada por fragmentos, inspirados nas obras de Walter Benjamim (1994; 1987), os quais foram construídos a partir de minhas memórias de infância, unindo-se a observações realizadas com crianças, as quais tenho convivido em minha trajetória profissional, bem como, aos resultados produzidos na pesquisa. Os fragmentos tecem entrelaçamentos teóricos com a sociologia da infância, dialogando com Corsaro (2011), Sarmento (2007; 2005; 2003; 2002), Qvortrup (1993); com a música das culturas da infância, discutindo a partir de Brito (2012; 2007), Beineke (2012; 2009; 2008), Ponso (2011) e Lino (2010; 2008); com a infância e experiência, através dos escritos de Benjamin (1994; 1987). Como objetivo geral, busquei investigar como a música constitui experiências nas culturas de pares construídas pelas crianças na instituição de Educação Infantil. Especificamente, compreender de que maneira as crianças protagonizam experiências envolvendo a música durante as brincadeiras, e analisar como a música se manifesta na interação das crianças entre si no processo de produção de culturas de pares. Através de uma abordagem interpretativa com inspiração etnográfica (GRAUE; WALSH, 2003), realizei uma pesquisa com a participação de 15 crianças entre 4 e 5 anos de uma instituição pública de Educação Infantil da cidade de Santa Maria/RS, no período de julho a dezembro de 2013. Como instrumentos metodológicos foram utilizados: observação, intervenção-observação, sessão de vídeos, registros escritos no diário de campo, assim como, registros fotográficos e audiovisuais. A partir dos resultados da pesquisa defendo a tese de que, por meio de suas culturas de pares, as crianças protagonizam diversas experiências musicais na escola de Educação Infantil. Essas experiências são construídas pelas relações intra e intergeracionais (SARMENTO, 2003), em especial, com a cultura midiática, contudo, não constituem essencialmente reprodução dessa. Através da apropriação criativa de elementos da cultura midiática, constituinte dos processos de reprodução interpretativa (CORSARO, 2011), são atribuídos novos sentidos e significados, sendo produzidas diferentes músicas nas culturas de pares. O protagonismo é um processo que parte de uma criança e, aos poucos, vai agregando outras, o que constitui as culturas de pares, demonstrando o caráter coletivo dos processos de produção de culturas. Os resultados foram organizados em fragmentos compostos por narrativas e filmagens que sinalizam para o protagonismo infantil nas experiências musicais e na produção de culturas de pares na escola de Educação Infantil e, também, dão visibilidade aos processos éticos de participação das crianças na pesquisa. Compreender as culturas da infância envolve a ética de um olhar diferenciado com as crianças, implica em ouvir e pensar nos protagonismos das diferentes culturas da infância, não como obviedades características da idade, mas como formas que elas, historicamente e culturalmente, constroem a si próprias nas relações que estabelecem em seus contextos sociais, culturais, étnicos, econômicos e políticos.