Detoxificação de farelos de crambe e tungue e avaliação na resposta nutricional do jundiá (Rhamdia quelen)
Abstract
Os farelos vegetais são apontados como as principais alternativas de fontes de proteína com
ampla disponibilidade, baixo custo e potencial nutricional para substituir a farinha de peixe em dietas
para piscicultura. No entanto, possuem menor conteúdo de proteína, maior teor de fibras e
antinutrientes, necessitando de um estudo minucioso para aplicabilidade ampla e segura. Técnicas de
processamento ou pré-tratamento podem extrair e/ou inativar antinutrientes melhorando o valor
nutricional das fontes. Neste sentido, foram mensurados nutrientes e antinutrientes e digestibilidade
proteica in vitro dos farelos de tungue e crambe in natura e após o tratamento químico em solução
ácido-alcoólica. Este procedimento reduziu os teores de gordura, cálcio, fósforo, taninos condensados
e ácido fítico no farelo de tungue, aumentou fibra em detergente neutro e não alterou proteína bruta,
matéria mineral, compostos fenólicos, taninos totais e hidrolisáveis. Para o farelo de crambe o
tratamento elevou fibra e matéria mineral e reduziu proteína bruta, gordura, cálcio, fósforo, fenóis
totais, taninos (totais, hidrolisáveis e condensados) e ácido fítico. Não foi observado efeito do
tratamento químico sobre a digestibilidade protéica in vitro dos farelos. Os farelos de crambe ou
tungue também foram pré-tratados com enzimas microbianas exógenas, fitase não comercial (ação de
fitase e tanase 1400 U e 1100 U/Kg) e fitase comercial (Natuphos/BASF, 1400 U/Kg). A fitase
comercial mostrou maior eficiência sobre o farelo de tungue, reduzindo a concentração de ácido fítico
e a fitase não comercial atuou mais efetivamente sobre taninos no farelo de crambe. A substituição de
farinha de peixe e farinha de carne e ossos pelos farelos de crambe ou de tungue in natura (forma
integral) ou detoxificados quimicamente ou enzimaticamente na alimentação de jundiás (Rhamdia
quelen) foi avaliada durante nove semanas, com o estudo do crescimento, parâmetros digestivos,
metabólicos e deposição corporal de nutrientes. Crescimento similar ao controle foi observado desde o
início do estudo nos animais alimentados com farelo de crambe nas formas integral ou detoxificada
quimicamente. Estes animais mostraram mínimas alterações enzimáticas e metabólicas. A inclusão do
farelo de tungue integral ou detoxificado quimicamente causou menor crescimento aos animais. Na
dieta contendo o farelo integral, estes resultados foram observados até o final do experimento e foram
somados às alterações enzimáticas digestivas, metabólicas e menor sobrevivência dos animais. A
forma tratada quimicamente do farelo de tungue propiciou maior crescimento em relação ao farelo
integral, possivelmente devido à remoção de antinutrientes e substâncias tóxicas. A inclusão dos
farelos vegetais (ambas as formas de tratamento enzimático) reduziu o crescimento dos peixes desde a
primeira avaliação, com resposta mais pronunciada nos animais que receberam o farelo de tungue.
Aumento no índice digestivosomático e quociente intestinal pode demonstrar uma adaptação
fisiológica destes animais ao consumo das dietas contendo o farelo de tungue, as quais apresentaram o
maior teor de fibra. Quanto à composição corporal, cinzas, proteína bruta e fósforo não foram
alterados entre os tratamentos contendo os farelos vegetais em estudo, mas dietas com inclusão de
farelo de tungue resultaram em menor matéria seca e gordura corporal.