Validação de metodologia analítica para análise de aflatoxina M1 e sua ocorrência no leite bovino comercializado no sul do Brasil
Resumo
Micotoxinas são substâncias tóxicas resultantes do metabolismo secundário de diversas linhagens de fungos. Dentre as micotoxinas conhecidas, as aflatoxinas são consideradas as de maior importância devido a sua presença e magnitude de contaminação em alimentos destinados ao consumo humano e animal. A partir da observação de que animais produtores de leite que consumam ração contaminada com aflatoxina B1 irão excretar aflatoxina M1 em seu leite, faz-se necessário o desenvolvimento de mecanismos seguros e confiáveis para análise deste contaminante. O leite é um dos mais completos alimentos disponíveis in natura para o homem, apresentando uma balanceada composição em nutrientes, sendo seu consumo recomendado em todas as etapas de desenvolvimento do ser humano, principalmente nas fases iniciais da vida. Neste trabalho foi validada uma metodologia de análise de aflatoxina M1 em leite fluido e em pó, baseada em extração e purificação com coluna de imunoafinidade com posterior separação e detecção por cromatografia líquida de alta eficiência acoplada a espectrometria de massas sequencial. Os limites de detecção e quantificação determinados foram 0,003 e 0,007 μg L-1 para leite fluido e 0,003 e 0,125 μg L-1 para leite em pó. Os coeficientes de recuperação globais para o método de extração de aflatoxina M1 foram 95,2% para leite fluido e 95,9% para leite em pó, com desvio padrão relativo de 5,7% e 5,3%, respectivamente. Em seguida ao desenvolvimento e validação do método analítico foi realizado um estudo de ocorrência de aflatoxina M1 em amostras de leite
fluido e de leite em pó. No total foram analisadas 173 amostras, sendo 123 de leite fluido, divididas em: 23 amostras de leite cru, 21 amostras de leite pasteurizado e 79 amostras de leite UHT, obtidas em estabelecimentos comerciais nos três estados da região sul do Brasil e 50 amostras de leite em pó, obtidas em estabelecimentos comerciais do estado do Rio Grande do sul. Os resultados encontrados mostram uma ocorrência de positividade de 90,2% (111) nas amostras de leite fluido, em níveis de concentração de 0,01 - 0,60 μg L-1 com contaminação média de 0,07 μg L-1. Para as amostras de leite em pó, 100% (50) estavam contaminadas, em níveis de concentração de 0,06 - 1,58 μg L-1 com contaminação média de 0,54 μg L-1. Das amostras de leite fluido 46% (57) excederam os limites máximos permitidos de aflatoxina M1 em leite, propostos pela legislação da União Européia (0,05 μg L-1) e 0,8% (1) excederam os limites máximos permitidos propostos pela legislação brasileira (0,5 μg L-1). Em relação às amostras de leite em pó, 98% (49) excederam os limites máximos permitidos propostos pela legislação da União Européia. Baseado nos resultados encontrados o método
mostrou-se sensível e adequado para determinação de aflatoxina M1 nos níveis propostos pelas legislações brasileira e européia. A alta ocorrência de aflatoxina M1 nas amostras
analisadas sugere que o monitoramento da aflatoxina M1 em leite deve ser um procedimento contínuo em nossa região.