Maturação fenólica de uvas tintas cultivadas no Rio Grande do Sul
Resumo
Nos últimos anos, a preocupação por vinhos com melhores características sensoriais e
propriedades biológicas tem motivado inúmeros estudos sobre os compostos fenólicos. O
conhecimento sobre o processo de maturação dessas substâncias vem ao encontro da necessidade
de se produzir um vinho de maior qualidade. Neste estudo, as variedades tintas Vitis vinifera
Malbec, Shiraz e Tannat foram avaliadas quanto à sua maturação fenólica. Para as duas primeiras
variedades, avaliaram-se três datas de colheita de um mesmo vinhedo. Para a variedade Tannat,
comparou-se uma data de colheita de três vinhedos distintos. Todos os vinhedos localizam-se no
Estado do Rio Grande do Sul e foram estudados nas safras de 2009-2010 e 2010-2011. As bagas
de uva foram avaliadas quanto à proporção de cascas, sementes e polpa, quanto à maturação
industrial (pH, Brix e Acidez Total) e quanto à maturação fenólica. Para esta última avaliação,
125 bagas foram triturados e macerados em pH 1,0 e pH 3,2 por 4 horas; após, avaliou-se os
seguintes parâmetros: extratibilidade de antocianinas (EA%), taninos nas cascas (dpell%), taninos
nas sementes (Mp%), Índice Polifenólico Total (IPT 280), antocianinas totais (ApH1,0) e
antocianinas extraíveis (ApH3,2). As variedades Malbec e Shiraz foram microvinificadas pelo
método tradicional de vinificação em tinto, e o vinho final foi avaliado quanto às propriedades
físico-químicas (pH e Acidez Total) e ao teor de compostos fenólicos (IPT280, Polifenóis Totais,
Taninos e Antocianinas). As análises foram realizadas em triplicata e estatisticamente avaliadas
pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade, por Análise de Componente Principal (PCA) e por
correlação linear. Para a variedade Malbec, os resultados evidenciaram maior maturação industrial
e fenólica (maior Brix, menor Acidez Total, maior IPT280, maior teor de antocianinas e dpell%e
baixos valores de Mp%) para a safra de 2010-2011 e para as colheitas mais tardias. A variedade
Shiraz demonstrou maiores teores de antocianinas totais, antocianinas extraíveis e IPT na segunda
data de colheita. A maturação fenólica na segunda safra também foi superior para esta variedade,
observando-se maior extratibilidade de antocianinas (menor EA%) e maior maturação dos taninos
das sementes e das cascas (menor Mp% e maior dpell%, respectivamente). Para a variedade
Tannat, a amostra de Itaqui (região de clima mais quente) apresentou maior teor de antocianinas e
IPT280 na primeira safra, equiparando-se à amostra de Dom Pedrito (região de clima menos
quente que Itaqui) na safra seguinte. Na PCA, as amostras foram agrupadas pela influência da
safra e data de colheita. Os vinhos de ambas as variedades apresentaram maiores teores de
compostos fenólicos totais, antocianinas e IPT280 nas vinificações de colheitas mais tardias e na
safra de 2010-2011. O conteúdo de polifenóis totais, IPT 280 e o conteúdo de antocianinas nos
vinhos foram altamente correlacionados com os índices de maturação industrial da uva, teor de
antocianinas extraíveis (ApH 3,2), teor de taninos nas cascas (dpell%) e teor de taninos nas
sementes (Mp%). Conclui-se que colheitas mais tardias podem proporcionar uma uva de maior
maturação fenólica. Porém, esta maturação está intimamente relacionada e dependente de
adequadas condições climáticas da safra.